quinta-feira, 9 de setembro de 2010

IGNORÃÇAS CONTÁBEIS

*Marcelo Henrique da Silva – Setembro/2010

Em seu “silêncio eloqüente” Marcílio Toscano Franca Filho nos apresenta que durante muito tempo e em muitas civilizações, o jurisconsulto foi o poeta e o poeta, o único jurisconsulto. Direito e poesia gozaram sempre de grande intimidade por séculos. As leis de Ísis eram escritas em versos; eram em versos também as leis de Esparta, e o atinenses costumavam cantar as suas normas em forma de longos poemas para fixá-las.

Lembrei-me, então, do alquimista do verbo, o poeta Manoel de Barros, que, afim de concertar suas ignorãças, escreveu assim: “O rio que fazia volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia volta atrás de casa. Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem”.

Pois veja, nas sendas jurídicas a importância de uma coisa não se mede apenas na rica oratória dos seus grandes tribunos, doutores, mas também no encantamento que a coisa produz em nós.

Foi em busca desse encantamento que a imagem da cobra de vidro se entrelaçou com a contabilidade; nobremente, diga-se.

O fenômeno contábil entra em cena na seguinte estória, então: “O contador de contabilidade encerrou os livros e emitiu as demonstrações contábeis. Um doutor formado na casa dos sábios contábeis, capitaneado pelo delegado e tio-padrinho da capital, em seu trejeito de andar de pomba-rolinha, disse, ao ver as demonstrações contábeis, que se tratava de demonstrações contábeis internacionais e padronizadas. Não era mais a minha contabilidade. Era uma contabilidade internacional, padronizada. O nome empobreceu minha imagem da contabilidade”.

Como diria o poeta, há um desagero em mim de aceitar essas medidas padronizadas, acorrentadas; há em mim um desagero em aceitar opiniões chapa-branca, apadrinhadas. Não sei se isso é um defeito do olho ou da razão. Talvez dos dois...

A importância da contabilidade não se mede com fita-padrão nem com balanço-padrão nem com opinião-padrão; a importância se mede pelo encantamento que ela produz em nós.

Amparado no elemento próprio e unidimensional o doutor dos saberes contábeis nos entrega nossa caixa, determinada e montada; construída num tamanho único, padrão, sem espaço para liberdade; formatada. Padronizada...

“Eu não sei nada sobre as grandes coisas do mundo, mas sobre as pequenas sei menos”, disse Manoel de Barros.

Eu, contador, não sei nada sobre as grandes coisas contábeis do mundo, mas sobre as pequenas sei menos, agora.

O nome empobreceu minha imagem da contabilidade.

Marcelo Henrique da Silva, é contador em Londrina.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

MITOS DERRUBADOS E ÁREA CONTÁBIL

Antônio Lopes de Sá
O prestigioso jornal de Madri “El País” de 19 de julho traz comentário sob o título “14 mitos derrubados após dois anos de crise”.
O noticiário inicia afirmando: “A crise abalou o capitalismo, este necessitado de reformas urgentes que estão custando a chegar. Há risco de que o poderoso “lobby” financeiro engesse as autoridades de modo que as reformas sejam apenas como cosméticos em face da tímida recuperação de valores a receber”.
Ou seja, admite o jornal que a crise indica a falência de um sistema e a existência de uma expressiva influência política de grupos que está sendo exercida para derrubar controles, autoridades e técnicos que possam criar obstáculos; ou ainda, revela que tudo indica que não se deseja mudar o cenário, mas, apenas “dar aparência de que se muda”.
Informa o periódico, todavia, que alguns famosos técnicos estão a reclamar maior transparência nas informações sobre a situação das empresas, em vez de se continuar a enganar o público com resultados falsos amparados em concessões normativas.
Oferecendo a opinião de intelectuais eleitos pelo jornal o noticiário é categórico em afirmar que as votadas normas contábeis não mudarão o cenário enganador que levou à crise; isso por que o normatizado até aqui, pelos efeitos notoriamente causados, evidenciou-se como incompetente para que a transparência das situações empresariais se operasse sem riscos.
Denunciando vários mitos derrubados com a crise, carente de reformas para que se altere o sistema capitalista canibal, dentre eles e no campo contábil, enfatiza “El País” às normas e ao comportamento dos auditores; lança a suspeição de ocultação de fraudes e falhas de clientes, uma vez que remunerados por estes (assim está publicado, induzindo a crer na “falsa independência”, evidenciando o fato como mais um mito derrubado).
Por ter influência no regime das demonstrações informativas a publicação referida ressalta que foi igualmente um grande erro dar-se demasiado crédito ao mercado (tese do Valor Justo), em virtude deste ser manobrável; ou seja, ao se manipular o mercado se mascaram informações contábeis quando estas se apóiam na imprudência (e esse é outro mito derrubado).
Essas mazelas que no dia 19 de julho foram matéria de relevo no famoso “El Pais” são as que também publicamente denunciei no dia 14 do mesmo mês, no Congresso Nacional dos Auditores do Tesouro Estadual e Distrital; muito antes da crise, todavia, há anos, adverti em conferências feitas em diversas partes do Brasil e da Comunidade Européia sobre as falhas e o mau regime adotados na elaboração das normas contábeis.
Sem ser êmulo de Daniel, Cassandra, Merlin, Malaquias, Nostradamus, Caliostro, Rasputin, de qualquer deles quanto a advertências sobre o futuro, apoiado na verdade que a ciência contábil oferece como realidade, afirmo que realmente temo pelo que possa vir a ocorrer no Brasil em matéria de manobras de lucros e perdas, assim como de ativos, em decorrência das leis 11.638 e 11.941, assim como das fortes influências políticas, essas que chegam até a operar mudanças nos quadros da administração tributária.
Os poderes não parecem dar provas de real competência na questão, se observada a conduta dos mesmos sob o prisma de Tejeiro; esse intelectual, um dos maiores lideres culturais e de classe da Espanha, há pouco, ao ser admitido na Real Academia de Ciências Econômicas e Financeiras, foi enfático na conclusão de seu discurso de ingresso, sobre o comportamento estatal, lecionando que deve assemelhar ao das empresas no que tange a perseguição de objetivos; como objetivo do Estado é o todo social e não apenas discriminadamente o de grupos da sociedade, é nesse particular que está falhando o sistema, segundo o enfoque do emérito mestre referido.
Afirma “El País”, em favor da tese que gerou a matéria editada, que a prevalecer o estado atual de coisas o que se está armando é outra “borbulha” que poderá vir a explodir brevemente; ou seja, coloca dúvida sobre as providências atuais, no sentido de que possam vir a resultar em um sincero saneamento; acusa, sim, os fatores “privilégios” e “impunidades” como máximas colocadas a serviço de um sistema cruel desonesto e especulativo; lamentável é que a Contabilidade esteja sendo acusada de uso em tal processo.
A confusão estabelecida no campo das “convergências”, a péssima didática das Normas, desrespeito aos preceitos lógicos e a má qualidade das mesmas (em face da ciência e do critério de legalidade); a pressa e a pressão exercida na implantação das modificações; as marchas e contra marchas de negociações sobre aplicações de procedimentos; a muita publicidade paga; a conivência de entidades, sustentadas com altas verbas e até a interveniência do Banco Mundial (conforme anunciado), tudo isso forma um complexo que a história certamente julgará e que tanto tem sido objeto de advertência de mestres e de parte de uma imprensa preocupada com a realidade.
A denúncia do prestigioso jornal, embora não exclusiva, mas, bem recente, confirma tudo o que exaustivamente tenho tentado fazer ver aos meus leitores, alunos e colegas, em razão das lesões à profissão contábil; enquanto isso, por outros lados “ouvidos moucos” de entidades públicas permitem e até ajudam o prosseguimento da malsinada marcha.
Com acidez de palavras, todavia, ainda além vai o “El País”, levantando a tese de que os Bancos receberam altas somas do poder público para que se recuperassem, mas que julgados não foram pelas perdas causadas à sociedade.
Finalmente, atribuindo a declaração a um técnico da IESE o jornal enfaticamente insere em seu comentário que se “força a mentir para lucrar-se cada vez mais”.
Ou seja, insinua que a falsa informação contábil sobre a situação das empresas é veículo na sustentação de um capitalismo canibal o que é deveras lamentável, pois, o uso do conhecimento para fins viciosos é além de aético uma tragédia do ponto de vista social e humano.

terça-feira, 24 de março de 2009

A IMPORTÂNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL NA EMPRESA E NA SOCIEDADE EM QUE ESTA ATUA

REBECA SÓRIA DOS SANTOS
Orientador: Profº Francisco Samuel V. Boas

SUMÁRIO



1. APRESENTAÇÃO 3

2. TEMA/PROBLEMA 4

3. OBJETIVO 4
GERAL
ESPECÍFICOS

4. JUSTIFICATIVA 4

5. HIPÓTESE 5

6. METODOLOGIA 5

7. REFERENCIAL TEÓRICO 5

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8











1. APRESENTAÇÃO

"Participar da comunidade vai ser fundamental para as empresas que quiserem fazer a diferença daqui para a frente" (palavras de Dori Ives, Presidente da Business & Community Services).
A Responsabilidade Social vem ao longo do tempo firmando-se. Aqui se pretende mostrar a importância que a Responsabilidade Social tem tanto nas empresas que a executam quanto para a sociedade que recebe os benefícios.
A partir da década de 1990 começa a existir um interesse crescente do setor privado nas questões sociais: tem início a responsabilidade social. O conceito de responsabilidade social é recente no Brasil e as empresas que admitem suas responsabilidades sociais ainda são poucas. A responsabilidade social é importante porque a empresa gira em função da sociedade e do que a ela pertence, devendo em troca, no mínimo, prestar-lhe contas da eficiência com que usa esses recursos. O desempenho da empresa depende da utilização dos recursos naturais, renováveis ou não, que não pertencem à empresa, mas à sociedade. As empresas devem contribuir para o desenvolvimento da sociedade por meio de ações para suas principais carências em termos de serviços e infra-estrutura de caráter social.
A responsabilidade social interna focaliza o público-interno da empresa, seus empregados e seus dependentes. O seu objetivo é motivá-los para um ótimo desempenho, criar um ambiente agradável de trabalho e contribuir para o seu bem-estar. Com isso a empresa ganha a sua dedicação, empenho e lealdade. Os ganhos de produtividade são enormes. A responsabilidade social externa tem como foco a comunidade mais próxima da empresa ou o local onde ela está situada. Assim, quando uma empresa atua em ambas dimensões adquire o seu status de "empresa-cidadã".
A prática da Responsabilidade Social é muito ampla, vai desde a preservação do ambiente a projetos socioculturais, como educação, saúde, lazer. No Brasil, muitas empresas vêm desenvolvendo seu papel social, isso mostra que muitas empresas evoluíram e estão se conscientizando da sua responsabilidade em benefício a comunidade e seus funcionários.




2. TEMA/ PROBLEMA

"A Importância da Responsabilidade Social na Empresa e na Sociedade em que esta atua"
Quais as vantagens e/ou desvantagens da responsabilidade social?
A responsabilidade social ajuda no progresso da empresa e da sociedade?

3. OBJETIVOS

GERAL
Mostrar a importância da responsabilidade social para a empresa e a sociedade em que atua.

ESPECÍFICOS
- Conceituar responsabilidade social;
- Pesquisar as ações sociais praticadas por empresas;
- Analisar toda pesquisa feita e demonstrar o resultado da Responsabilidade Social.

4. justificativa

Nos últimos tempos tornou-se necessário, e até mesmo imprescindível que as empresas estejam contribuindo com o desenvolvimento social do local em que estão localizadas, o que é vantajoso tanto para a empresa como para a sociedade.
É importante para qualquer entidade não somente oferecer produtos e serviços de qualidade, mas também exercer sua cidadania (responsabilidade) social, propiciar melhores condições e mais qualidade de vida às pessoas menos favorecidas, oferecendo desenvolvimento, solidariedade e oportunidades que colaborem com o progresso do lugar em que atuam.

5. hipótese

A entidade que cumpre com sua responsabilidade social é bem vista pela sociedade e passa a ter uma parceria com a mesma.
A responsabilidade social é uma ajuda mútua, com o desenvolvimento da sociedade, essa mesma contribui com o desenvolvimento da empresa direta ou indiretamente.


6. metodologia

A realização deste projeto se dará através de Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa de Campo.
Para se conceituar Responsabilidade Social serão usadas várias obras de diversos autores, procurando assim um conceito amplo sobre o assunto. A pesquisa das ações sociais feitas pela empresa se desenvolverá através da observação, pesquisa de documentos da própria empresa, como também a pesquisa de campo com entrevistas com os responsáveis por essas ações na empresa, questionários com os funcionários e com uma parte da sociedade que desfruta desses benefícios. Com posse de todos esses instrumentos será feita uma análise para se demonstrar a importância da responsabilidade social na empresa e na sociedade.


7. referencial teórico

Nos dias atuais as empresas estão assumindo novos papéis na sociedade, contribuindo para o desenvolvimento econômico, político e social do País, sua Responsabilidade Social, e além de ajudarem na melhoria da qualidade vida da sociedade também objetivam uma posição de liderança no mercado.
De início torna-se necessário destacar o conceito de responsabilidade. Conforme FERREIRA (1974, p.1050) Responsabilidade significa “qualidade de responsável; obrigação de responder pelos próprios atos ou pelos de outrem; capacidade de entendimento ético-jurídico e de adequada determinação volitiva, que se constitui pressuposto penal necessário de punibilidade”. Segundo BATISTA (2000, p.40), conceituar Responsabilidade Social de uma empresa, diante da escassez de pesquisas divulgadas, ainda é uma proposta muito complexa, e, citando Samuel Certo, define Responsabilidade Social como “o grau em que os administradores de uma organização realizam atividades que protejam e melhorem a sociedade além do exigido para atender aos interesses econômicos e técnicos da organização”.
MARIANO, (p. 76) prescreve que a responsabilidade Social de uma empresa “(...) representa, essencialmente, o compromisso da administração em estabelecer diretrizes, tomar decisões e seguir rumos de ação que são importantes em termos de valores e objetivos da sociedade(..)”.
SANTOS (1999,p. 76/77), citando Archie Carrol, conceitua Responsabilidade Social como “as expectativas econômicas, legais, éticas e sociais que a sociedade espera que as empresa atendam, num determinado período de tempo (...)”.
Essas necessidades são atendidas através do investimento em ações sociais, assim as empresas contribuem para elevar a qualidade de vida de segmentos da sociedade para os quais as ações do poder público não chegaram ou foram insuficientes, objetivando assim ocupar uma posição de liderança no mercado.
Para o INSTITUTO ETHOS (p.2)

o conceito de Responsabilidade Social é amplo, referindo-se à ética como princípio balizador das ações e das relações com todos os públicos com os quais a empresa interage(...). A questão da Responsabilidade Social vai, portanto, além da postura legal da empresa, da prática filantrópica ou do apoio à comunidade. Significa mudança de atitude, numa perspectiva de gestão empresarial com foco na qualidade das relações e na geração de valor para todos.

As empresas através de suas atividades dão a sua principal contribuição à economia de uma país. Mas a sociedade os mostrou que somente isso não é o suficiente, é preciso também investimento nas questões sociais e ambientais, pois não se avança sem a preservação do meio ambiente e dignidade da população. Isso também se torna uma vantagem competitiva segundo SANTOS E SILVA (1999, p. 76/77) “(...) as empresas que possuem um comprometimento social têm uma vantagem estratégica em relação àquelas que não possuem tal imagem perante o público”. Sobre o mesmo assunto DE LUCA (1998), escreveu “(...) as empresas que tomaram a decisão de investir na melhoria contínua comunitária estão rapidamente descobrindo o sucesso do seu negócio.”
Portanto, hoje, para uma empresa ter uma boa imagem frente ao público deve atuar na dimensão econômica, social e ambiental.
Quando uma empresa deixa de cumprir sua obrigações sociais em relação a seus empregados, acionistas, consumidores, parceiros e comunidade, ela perde o seu capital de responsabilidade social. O primeiro indicador é a perda de credibilidade. Sua imagem é prejudicada e sua reputação, ameaçada. Se o problema é a responsabilidade social interna, os primeiros efeitos são a deteriorização do clima organizacional, a desmotivação generalizada, o surgimento de conflitos, ameaças de greve e paralisações, fuga de talentos, baixa produtividade e aumento de acidentes de trabalho, além de altos índices de faltas e atrasos. Quanto à responsabilidade externa, a principal área de problema, os efeitos são danosos: acusações de injustiça social, boicote de consumidor, perda de cliente, reclamações de fornecedores e revendedores, quedas de vendas, gastos extras com passivo ambiental, ações na justiça, risco de invasões e até mesmo risco de falência. Uma empresa insensível aos problemas sociais da comunidade perde o respeito de seus próprios empregados, parceiros, clientes e de todos os cidadãos daquela comunidade.
A responsabilidade social, assumida de forma consistente e inteligente pela empresa, pode contribuir de forma decisiva para a sustentabilidade e o desempenho empresarial. Podendo a cidadania empresarial ser usada como vantagem competitiva, os funcionários orgulham-se e sentem-se motivados em trabalhar nesta empresa, como resultado as vendas crescem e a imagem da empresa se fortalece, ganha respeito e confiabilidade e assegura a sua auto-preservação.
O exercício da cidadania empresarial assegura a qualquer empresa ganhos e benefícios diversos como: retorno da imagem, retorno sobre as vendas e de mercado, retorno para os acionistas, retorno publicitário, retorno tributário, retorno de produtividade, retorno social propriamente dito (desenvolvimento da comunidade).
Segundo o representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF Brasil, Agop Kayayan, "a autopreservação empresarial das empresas privadas depende da consciência de sua responsabilidade na construção do país".

8. Evolução do Pensamento Contábil
A história da Contabilidade comprova que seu surgimento decorre de mais de 20.000 anos, antes mesmo do homem viver em comunidade, a necessidade de registro da riqueza individualizada já existia.
Para controlar seu patrimônio ele utilizava técnicas de pintura em cavernas, representações em formas de sulcos em ossos; posteriormente a escrituração em tábuas de argilas e, somente com os egípcios, por meio da descoberta do papiro, iniciou a utilizar o papel como um recurso de registro, de acumulação e de demonstração das variações da riqueza.
A história da Contabilidade acompanha a evolução da humanidade, procurando suprir suas necessidades em termos de controle e de gerenciamento da riqueza.
Na idade média, as entidades possuíam seus registros e informações secretas e protegiam-nas com sigilo absoluto em matéria de conhecimento sobre os fatos ocorridos com a riqueza e com o pessoal. Neste cenário, desenvolveu-se o conhecimento doutrinário da Contabilidade, com uma abordagem voltada para o controle e para a anulação das necessidades internas.
A contabilidade originou-se com base nos registros de fatos, por meio da utilização da conta, mas só se pr4eocupou em disciplinar o conhecimento, para poder saber de que matéria efetivamente ela tratava a partir do século XVI da era cristã. Explicar fenômenos, todavia, só iniciou no século XVII, com o advento de novas escolas e com início do desenvolvimento de estudos de caráter científico. Esse grande período da evolução da Contabilidade (18.000 a.C. até a primeira revolução industrial) tem como linhas mestras de identificação a ênfase no controle da riqueza individual e a concepção utilitária de caráter interno da Contabilidade.
Porém, foi deveras importante porque marcou o desenvolvimento de várias escolas e serviu de base para a construção do conhecimento científico da Contabilidade.
Como advento da primeira revolução industrial o enfoque contábil sofreu transformações.
A necessidade de calcular custos para a formação de estoques, a cobrança de tributos com base na produção, o crescimento das entidades, as novas formas de constituição social de entidades, entre outras modificações de época, forçaram avanços me termos de desenvolvimento de novas técnicas e metodologias contábeis.
As necessidades informativas e de controle incumbiram-se de mudar a visão estritamente interna e, então, o caráter econômico da empresa passou a predominar, especialmente a partir dos fins do século XIX. Foi uma fase de relevo do estudo do capital, como produtor do rédito (resultado) das filosofias e políticas sobre o mesmo.
A Contabilidade como instrumento de prestação de contas e base de geração de informações sobre resultados predominou. Tal enfoque deu origem ao que se denomina de Contabilidade Financeira. A Contabilidade voltada para fins de geração de demonstrações com enfoque passado, dirigidas, principalmente, para atender a legislações sucumbiu diante dos avanços ocorridos em meados do séculos XX, os governos ampliam suas participações m termos mercantilistas e de estrutura organizacional; a corrupção agiganta-se; as entidades procuram novos mercados e transformam-se em transnacionais; a globalização molda novos cenários de competição; os avanços dos meios de transporte propulsionam o desenvolvimento; o aumento das populações provoca transformações sociais; os meios da comunicação interligam pontos distantes; e a tecnologia da informação promove avanços em todos os segmentos.
Diante dessas evoluções, as entidades exigem e promovem novas visões no conhecimento contábil. A contabilidade passa a ser vista como um instrumento de apoio à gestão, voltada para solucionar problemas, antecipar situações, evidenciar cenários e explicar as mutações ocorridas com o patrimônio.
A abordagem contábil volta a ser interna, mas objetivando anular as necessidades de gerenciamento, gerando informações em tempo hábil para o processo de controle, planejamento e tomada de decisão.
A partir da década de 70, do século XX a ótica modifica-se mais uma vez. A disseminação da tecnologia da informação e a mudança cultural nas sociedades provocam reflexos nos sistemas de gestão das entidades.
O consumidor, na condição de cidadão, passa exigir transparência nos laços que unem a entidade e a sociedade.
As pressões sócias levam os empresários a discutirem formas de gestão participativa, e, também, os conceitos de responsabilidade social e ecológica.
As organizações desenvolvem formas de realinhar seus processos e, sobretudo, readequar a estrutura e o sistema de informações, para obter resultados dentro desse novo conceito de sociedade.
Os fenômenos do patrimônio, por meio da abordagem sistêmica, passam a interligar-se com os estudos das áreas sociais e humanas e até das relativas ao meio ambiente.
Essa modificação na cultura social, na forma de entender e perceber as necessidades de infomação, exigem mudanças doutrinárias.
A Contabilidade situa-se, portanto, em uma nova posição, deixando o campo restrito, até então delimitado para o seu objeto de estudo e transcendendo nas óticas de exames, interpretações e explicações.
“Uma nova corrente científica observa a vida da riqueza das empresas e das instituições sob uma ótica especial, holística e de grande Responsabilidade Social. Doutrina de origem brasileira, o neopatrimonialismo apresenta um conjunto de teorias competentes para promoverem o bem-estar material pela satisfação das necessidades humanas” (Sá, Antônio Lopes de. Prosperidade e o esforço científico do neopatrimonialismo contábil para uma nova sociedade. www.lopesdesa.com,2000,
Com a teoria geral da Contabilidade, baseada na doutrina neopatrimonialista, a aplicação do conhecimento contábil passa a produzir informações direcionadas à entidade, como tecnologia de apoio à gestão, e também gera subsídios para fortalecer o processo de transparência resultante dos conceitos de Responsabilidade Soial e ambiental- Contabilidade Sociogestorial.
ENFOQUE
Necessidades do Proprietário
Necessidades Governamentais
Necessidades das Entidades
Necessidade da Entidade e da Sociedade
PERÍODOS
Contabilidade como instrumento de controle
Contabilidade Financeira
Contabilidade Gerencial
Contabilidade Sóciogestorial
ABORDAGEM
Interna
Externa
Interna
Interna e Externa




9. A Contabilidade e o Social

Desde o início o homem sentiu a necessidade de se organizar socialmente, e com o passar do tempo foram criadas técnicas de controle que podiam evidenciar o aumento e redução das riquezas.
Diante disto, podemos dizer que a contabilidade existe desde o começo da humanidade, como afirma Consenza (2001,p.45) sua evolução “... foi contemporânea ao processo de socialização do homem, estando fortemente atrelada à manifestação das próprias necessidades humanas.”
A contabilidade como ciência social têm evoluído para adequação de todas as modificações que influenciam o mundo, tanto econômicas,quanto políticas e sociais.
Adaptado do trabalho de Cosenza (2001,p.53) quando aborda a evolução do pensamento contábil, no trabalho que descreve as perspectivas para a profissão do contador num mundo globalizado, estrutura-se um quadro demonstrativo das várias fases da contabilidade fazendo uma proposição do que deve está preparada para enfrentar relacionando-a com os valores dominantes de cada época e o que se propõe a atender.
Quadro 1.1
FASE
PERÍODO
VALORES DOMINANTES
O QUE PROCURA ATENDER
Contabilidade por empirismo
30.000 ªC. até 1202 d.C.
Intuição, bom senso e criatividade decorrente de dons inatos.
Responder ao conceito de propriedade.
Contabilidade por Processo
1202 – 1950
Busca desenfreada da melhoria dos métodos, técnicas e processos.
Responder as necessidades empresariais.
Contabilidade por Resultado
1951 – 1970
Busca de procedimentos voltados para a melhoria da forma de evidenciação dos fatos patrimoniais.
Responder à necessidade de informações úteis.
Contabilidade por Contingência
A partir de 1971
Satisfação das demandas presentes e futuras do empreendimento.
Responder às necessidades estratégicas.
Contabilidade e Responsabilidade Social
A partir da década de 90
Preservação ambiental, sustentabilidade dos recursos, democratização da qualidade de vida.
Responder aos anseios sociais de desenvolvimento local.

*Quadro adaptado de Cosenza


Diante do quadro exposto vemos a importância da contabilidade social, pois sendo um sistema de informação que é usado para evidenciar a situação financeira, patrimonial e econômica, fornece informações também sobre o social. Como diz Iudícibus e Marion (2002,p.53) a contabilidade tem o objetivo “... de fornecer informação de natureza econômica, financeira e subsidiariamente, física, de produtividade e social, aos usuários internos e externos à entidade objeto de contabilidade.” E Queiroz e Queiroz ( 2000, p.81) colocam que “sendo a contabilidade uma enorme fonte de registro, interpretação e informação de dados empresariais e governamentais, deve também passar a preocupar-se com o retorno a ser dirigido a todo a sociedade.”
Portanto a contabilidade social deve desenvolver mecanismos que possibilitem a identificação, mensuração e registro das ações relacionadas com a promoção do desenvolvimento sustentável para que sejam divulgadas e avaliadas, possibilitando assim que ações corretivas sejam implementadas no tempo hábil.




10. Balanço Social

Para a mensuração e registro dessas ações sociais temos o balanço social
Podemos conceituar o Balanço Patrimonial como um demonstrativo elaborado pelas organizações para informar aos seus gestores, colaboradores e a sociedade em geral sobre a aplicação de recursos canalizada para o âmbito social evidenciando a contribuição daquelas para a melhoria de vida da população .
Luca ( 1998,p.23) conceitua o Balanço Social como “.... um instrumento de medida que permite verificar a situação da empresa no campo social, registrar as realizações efetuadas neste campo e, principalmente, avaliar as relações ocorridas entre o resultado da empresa e a sociedade”.
Para a sociedade o Balanço Social é um demonstrativo que informa as ações das organizações que estão contribuindo para a melhoria da qualidade vida da população, evidenciando os impactos sociais e ambientais resultantes principalmente das atividades empresariais.
No que diz respeito à melhoria das condições de vida, Coelho, Dutra e Cardoso(2000, p.12) colocam que esta é realizada a partir de,
“....um conjunto de ações que transcende ao importante item de preservação ambiental e se expande para a melhoria das condições de trabalho, assistência médica e social, além de incentivo às atividades culturais, artísticas e esportivas, bem como à preservação, reforma e manutenção dos bens públicos e religiosos.”
Ainda não existe uma técnica e nem estrutura padrão para a elaboração do Balanço Social, no entanto existe uma proposição da Comissão de Valores Mobiliários que vem sendo utilizada por muitas empresas. Nela são evidenciados os valores do faturamento bruto, do lucro operacional, da folha de pagamento bruta e os indicadores laborais, sociais e do corpo de funcionários.
Por intermédio do balanço social a empresa divulga dados e informações relevantes para o correto julgamento da sua Responsabilidade Social, um aspecto que pode inibir as aplicações empresariais nas atividades de cidadania é a possível dúvida quanto a sua natureza de despesa ou investimento.
As empresas estão redefinindo sua responsabilidade social e necessitam demonstrar à sociedade o que, de fato, estão investindo. A aproximação entre empresas e comunidades reforça a necessidade de um Balanço Social como forma de evidenciar à sociedade o desempenho da política social existente na empresa.
Tinoco (apud Dolabella, 992), define Balanço Social como um instrumento de gestão e de informação que visa responder, de forma mais transparente possível, vale dizer, com evidenciação plena — full disclosure, informações econômicas, financeiras e sociais do desempenho das entidades, aos diferentes usuários da informação.
O Balanço Social estimula a valorização da cidadania, podendo funcionar como um instrumento de política econômica. Segundo Silva (1998), de modo facultativo, muitas empresas já estão divulgando em relatórios anuais, informações sobre o que estão fazendo em benefícios de seus funcionários e da sociedade. Carentes de um instrumento formalizado para divulgar informações dessa natureza no Brasil, algumas empresas têm feito o Balanço Social voluntariamente. Mas as informações não são uniformizadas e conforme Varela, Costa e Dolabella ( 999), entre outros fatores, essa falta de “padronização” tem trazido dificuldades para a elaboração do Balanço Social e a Demonstração do Valor Adicionado por parte das empresas.
Segundo a Teoria do Empreendimento, proposta por Suoajen (apud Dolabella, 992), a empresa é uma instituição social cujas decisões afetam diferentes grupos, como acionistas, credores, consumidores, instituições governamentais e o público em geral. Portanto, estende a responsabilidade da empresa em evidenciar informações a outros grupos.
Dessa forma, os assuntos Balanço Social e Demonstração do Valor Adicionado são extremamente oportunos, inclusive, quando se lembra que um dos pré-requisitos para o exercício da cidadania é o direito à informação. Além de contribuir para uma sociedade melhor, a empresa ainda poderá utilizar-se desses investimentos em seu marketing, que, sendo efetuado com transparência e ética, pode ser um dos fatores a contribuir para se “destacar na prateleira”, tornando a empresa mais receptiva aos olhos da sociedade.

11. Cidadania Empresarial

Os investimentos na área social realizados pelas empresas é um fenômeno que vem a ser denominado “cidadania empresarial”.
Uma organização a partir de sua constituição legal adquire personalidade jurídica própria e, dessa forma para a usufruir direitos e a ter deveres a cumprir , como uma pessoa física, ela adquire cidadania empresarial.
Em países mais desenvolvidos, as idéias de cidadania empresarial existem há algumas décadas, não só por força da legislação ambiental, social e trabalhista mas também por exigência de organizações da sociedade civil e dos consumidores. No Brasil, diversas organizações empresariais foram criadas para liderar ações sociais e aglutinar empresas e empresários que comungam dos mesmos ideais e valores sociais, constituindo fóruns de discussão, entre essas organizações podemos citar o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Ethos)- esse instituto defende a idéia de responsabilidade social nos negócios, tendo como foco de ação questões ligadas à própria atividade empresarial. Para essa entidade “a maior contribuição que as empresas podem dar ao país é colaborar efetivamente para a construção de uma sociedade mais justa e ambientalmente sustentável.”
A cidadania de manifesta de várias formas, com investimentos para diversas áreas, como educação, saúde, cultura, ecologia, etc e visam atender a várias demandas. Esse envolvimento com ações sociais tem como objetivo maior de contribuir para elevar a qualidade de vida das pessoas, fruto de uma consciência da Responsabilidade Social. Como exemplo podemos citar:
· C&A com relação à causa da educação infantil;
· O Boticário em ações de proteção ap meio ambiente;
· O Mc Donald’s, que, uma vez por ano, faz arrecadação de dinheiro destinado ao tratamento de crianças portadoras de câncer;
· A White Martins mantém convênio com entidades de apoio a deficientes mentais;
· A Procter&Gamble realizou operação limpeza do Vale do Anhangabaú, em São Paulo, e fez a instalação de lixeiras-padrão;
· A Latasa troca um certo número de latas vazias por equipamentos sócias;
Além dessas, inúmeras outras poderiam ser citadas. Essas ações sociais é uma pequena parcela de contribuição social. O público reconhece e retribui esse esforço à medida que passa a ter preferência pode produtos de empresas que tenham algum engajamento social. Pesquisas mostram que as empresas que apóiam instituições beneficentes capturam 80% a mais de clientes do que as não-apoiadoras, em igualdade de qualidade e preço de produto, e 60% dos consumidores de dispõem a trocar de marca para outra um pouco inferior se a empresa apóia entidades beneficentes.
Assim sendo, a Contabilidade em suas funções pode contribuir para uma maior transparência dos investimentos empresariais nas ações sociais. As ações devem merecer atenção, pois são informações que interessam cada vez mais à sociedade. Segundo ALMEIDA (2000), pesquisa realizada pela Gazeta Mercantil mostrou que “o consumidor está levando em conta a atuação social das empresas na hora de escolher um produto, mas sente falta de mais informações sobre essa participação”. Assim, o balanço social se torna a demonstração contábil que melhor pode evidenciar os investimentos da empresa em ações sociais, ambientais e humanas. Dessa forma, o profissional da Contabilidade estará colaborando sobremaneira para uma maior transparência da participação empresarial nas causas sociais e do País e uma melhor reflexão sobre a atuação cidadã das empresas, e assim, contribuindo para o resgate da cidadania perdida.

12. Conclusão

As empresas que fazem opção por exercer sua Responsabilidade Social obtêm uma série de benefícios, agregando valor á sua imagem e colaborando para a consolidação de importantes valores humanos nas comunidades interna e externa. Nesse processo, onde a relevância social das funções do profissional da Contabilidade fica, cada vez mais, evidente e consolidada, é imperioso que este profissional-cidadão compreenda mais do que nunca o seu papel na proteção dos interesses da sociedade, que devem sempre prevalecer acima de quaisquer conveniências.
Através do exposto pode-se perceber que a responsabilidade Social vai além do que se imagina à primeira vista, foi-se o tempo em que as empresas poderiam visar, unicamente, à maximização de lucros. Hoje, o compromisso social de uma empresa é bem maior do que épocas passadas, isto se deve ao fato de que as empresas tornaram-se fundamentais para o desenvolvimento econômico e social de uma nação.







13. referências bibliográficas


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Capital Intelectual

CELSON SENA MACIEL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências Contábeis da UNIME, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientadora: Profª. Célia Oliveira
SUMÁRIO

1 Objetivo 04
1.1 Tema 04
1.2 Objetivo geral 04
1.3 Objetivos específicos 04
2 Justificativa 05
2.1 Justificativa cientifica 05
2.2 Justificativa social 05
2.3 Justificativa pessoal 06
3 Definição do problema 07
4 Metodologia 07
5 Resumo 08
6 Referencial teórico 09
6.1 Introdução 09
6.2 Origem e evolução 10
6.3 Conceito 11
6.4 Estrutura do capital intelectual 11
6.5 A diferença entre o valor de mercado e o valor contábil 12
6.6 A razão entre o valor de mercado e o valor contábil 12
6.7 O “Q” de Tobin 12
6.8 O balanço intelectual 13
6.9 O capital intelectual e os princípios contábeis 13
6.10 Opções de avaliação de itens patrimoniais 15
6.11 Valor intangível calculado (VIC) 17
6.12 Proposta para mensuração e demonstração do capital Intelectual 18
7 Análise dos dados e resultados 19
8 Conclusão 29
9 Recomendações para futuros trabalhos 30
10 Referência 31
11 Apêndice 32



1 Objetivo

1.1 Tema

As raízes ocultas do valor contábil de uma empresa evidenciadas pela mensuração e escrituração confiável de seu capital intelectual frente ao desafio de estabelecer um novo método para a sua valoração e divulgação nas demonstrações contábeis.

1.2 Objetivo geral

Expor de forma clara e resumida as vantagens e desvantagens, facilidades e dificuldades para evidenciação, classificação, mensuração, escrituração e demonstração do capital intelectual, com a finalidade de analisá-lo e propor estratégias empresariais que dêem sustentabilidade a empresa em todos os seus aspectos (financeiro, tributário, operacional, logístico e etc.).
Propor um modelo de relatório contábil para demonstrar o capital intelectual das entidades, respeitando os princípios fundamentais de contabilidade visando dar maior transparência e valores mais realísticos às suas demonstrações financeiras.

1.3 Objetivos específicos

1. Buscar Informações relevantes sobre o histórico, os conceitos e as técnicas de mensuração do capital intelectual;
2. Enumerar e classificar os elementos constituintes do capital intelectual descritos na literatura sobre este assunto;
3. Elencar os métodos de mensuração e demonstração do capital intelectual descritos na literatura sobre este assunto;
4. Comparar o valor contábil com o valor de mercado da empresa Braske, constituídas como sociedade anônima, demonstrando a relação do setor de atividade com o capital intelectual e a lucratividade dessa empresa.




2 Justificativa

2.1 Justificativa cientifica

Com a crescente globalização e internacionalização das empresas, os investidores de todo o mundo passaram a aplicar em diferentes organizações de diferentes lugares do mundo, e para que um investidor europeu possa direcionar o seu dinheiro em empresas do outro lado mundo e até no Brasil, ele deve analisar a “saúde financeira” de sua investida com a finalidade de minimizar os riscos de perdas e maximizar a possibilidade de ganhos de capital.
A contabilidade uma vez mais deve evidenciar a situação econômico-financeira das entidades para que com isso ela deixe transparecer os aspectos quantitativos e qualitativos do patrimônio das investidas. Mas vale ressalvar que os antigos padrões servem para direcionar o foco de como fazer as demonstrações, contudo as pequena, médias e grandes empresas de todo o mundo devem medir e determinar o valor do seu capital intelectual para que as suas demonstrações sejam equivalentes, verídicas, reais, atuais e transparentes.
Segundo Edvinsson & Malone em sua obra Capital Intelectual (1998, P 3): “Tem se tornado óbvio que o valor real dessas corporações não pode ser determinado somente pela contabilidade tradicional. O valor de uma Intel ou de uma Microsoft não reside nos tijolos e na argamassa ou mesmo nos estoques, mas em outro tipo intangível de ativo: O Capital Intelectual”.

2.2 Justificativa social

As empresas da era do conhecimento buscam incessantemente a equação da prosperidade empresarial, e para tanto lançam estratégias e métodos racionais para alcançar os resultados traçados, como conseqüência, utiliza as mais variadas ferramentas disponíveis para gerir de forma cientifica o sistema empresa. Nesta procura incessante por novas “formas” de tornar o empreendimento eficaz e eficiente as empresas transformam não só as suas práticas, mas também toda a sociedade que de alguma maneira interage de forma direta ou indireta com o sistema empresarial.
Neste sentido, em tese como já enunciado por cientistas contábeis, como Lopes Sá, quando a célula social em suas operações alcança a sustentabilidade econômica e consegue manter o seu nível de investimento com retorno monetário acima do montante aplicado, consegue de alguma forma, alavancar a prosperidade social dos membros que participam, direta e indiretamente da empreitada organizacional, seja na criação de postos de trabalho, seja na geração de receitas tributárias para o estado que posteriormente será transformado em benefícios sociais, por meio de programas de governo ou ainda por própria iniciativa voltada para responsabilidade social da empresa, direcionada para a comunidade local.
Desta forma se o sistema empresa cresce, a sociedade também prospera de alguma forma, e para chegar a tão almejada sustentabilidade organizacional são necessários diferenciais competitivos para “ganhar” mercado, um destes diferenciais é o conhecimento, denominado de capital intelectual que de alguma forma deve ser reconhecido, mensurado, evidenciado e gerenciado para que consiga gerar frutos positivos primeiramente para a empresa, e depois por conseqüência a sociedade.

2.3 Justificativa pessoal

O desafio de reconhecer, mensurar e evidenciar o capital intelectual pela ciência mais financeira das ciências sociais, a contabilidade, reside em dezenas de obstáculos que a priori parecem ser quase que imbatíveis, mostra a relevância de tal assunto, ainda mais que tal ativo intangível tem se tornado cada vez mais valioso mesmo que sem métodos objetivos para mensura-lo, na medida que a não é demonstrada para os empresários a diferença entre o valor patrimonial da empresa e o seu valor real e atual de mercado nos relatórios financeiros.
Esta lançado um dos maiores “problemas” para a ciência contábil, que se propõe a demonstrar o passado financeiro da empresa com o intuito de registrar bem os fatos presentes e gerar tendências para o futuro. e para que se consiga determinar com um elevado grau de eficácia os eventos e tendências futuros para uma empresa deve-se ter em mãos quais os benefícios que poderão ser alcançados e quais as dificuldades a serem enfrentadas escrituradas de forma objetiva e consistente.
Qual o empresário que não gostaria de possuir hoje os melhores e mais inteligentes funcionários de seu ramo de negócio? Como alavancar tal potencial (conhecimento)? Como medir e gerenciar os ativos intangíveis? Enfim o contador que se municia com respostas para tais questionamentos sai na vanguarda da era do conhecimento no ramo empresarial, e por esse motivo buscar evidencias e informações no intuito de construir conceitos para esclarecer o assunto denominado capital intelectual é motivo de sobra para qualquer profissional do ramo econômico-financeiro procure contribuir e apreender o máximo de conhecimentos sobre tal assunto de especial relevância na era da informação.

3 Definição do problema

Como evidenciar o capital intelectual nos relatórios contábeis e qual a sua influência no valor de uma empresa?

4 Metodologia

Coletar dados a partir de pesquisa exploratória de levantamento de dados para orientar o foco de estudo e a estrutura do capital intelectual.
Aplicação de questionário com questões de múltipla escolha, direcionado para contadores, economistas, administradores, professores e profissionais ligados gestão administrativa e financeira de empresas de capital aberto e órgãos de classe com o objetivo de gerar um perfil do assunto capital intelectual no meio profissional.
Efetuar a análise de indicadores financeiros e das demonstrações financeiras da empresa Braskem S/A por meio de sítios da internet qualificados com o objetivo de identificar o valor do capital intelectual dentro da empresa analisada.


















5. Resumo

A crescente internacionalização dos mercados e economias, e, a concorrencia empresarial acirrada, empurraram as empresas modernas e seus instrumentos gerenciais para um nivel elevado de desenvolvimento tecnologico e de relações humanas. A sociedade experimenta um nivel altissimo de desenvolvomento cientifco em todas as esferas do conhecimento, e para a ciência contabil não poderia ser diferente, as metodologias administrativas empregadas dentro e fora das empresas levaram a contabilidade a buscar artificios para continuar fornecendo informações precisas e preciosas para os administradores, com a finalidade de subsidiar uma decisão acertada e no momento certo. Neste cenário onde o conhecimento e uma informação relevante valem mais do que recursos financeiros, surgiu dentro da contabilidade a ideia de conhecer o capital intelectual, cujo foco se lançou primeiramente para a parte intangivel do patrimonio das entidades e no segundo momento afirmou que o capital intelectual também possui elementos tangiveis. Por esse e outros motivos é que o objetivo desta pesquisa é tratar de tal assunto que assume cada vez mais relevância dentro do cenário organizacional, o capital intelectual tem se tornado uma vantagem competitiva para as empresas que buscam entende-lo, mensura-lo, evidencia-lo e administra-lo de forma coerente e racional no intuito de criar mais valor para a empresa, e para isso neste trabalho são descritos metodos e praticas ja cristalizadas por doutrinadores deste ramo do conhecimento que enunciam como mensurar e demonstrar tal fato economico dentro das empresas, buscando compara-los a fim de detectar o perfil caracteristico de cada métodologia aplicada, e, não só isso, o referido trabalho também coloca profissionais frente ao tema, buscando avaliar a percepção de tais individuos quando o assunto tratado é capital intelectual.











6 Referencial teórico

6.1 Introdução

Com a atual transição da era industrial para a era da informação, o mundo e principalmente as empresas vem experimentando uma nova fonte de recursos para a geração de riquezas e conseguir a tão sonhada prosperidade organizacional de forma sustentável. O recurso em questão é o conhecimento, que conforme mencionado por Edvinsson & Malone (1998) “são ativos que se manifestam dentro das entidades empresariais principalmente na forma de inteligência humana e recursos intelectuais na criação de valor e riqueza.”.
Surge então a idéia do capital intelectual dentro das corporações do século XXI, que de forma exponencialmente crescente vem se tornando um diferencial competitivo no mercado globalizado e fator preponderante para a tomada de decisão em certas situações, como em empresas que se baseia quase que inteiramente na gestão do conhecimento. Conforme Rodney Wernke (2002) comenta:

A atenção dirigida a tais fatores é merecida tendo em vista que as organizações e os negócios estão se redefinindo em termos de formatos e meios de transações comerciais, tornando imprescindíveis itens como imagem, reputação, tecnologias informacionais, carteira de clientes, flexibilidade operacional, canais de distribuição, domínio de conhecimentos, funcionários capacitados, marcas, patentes, etc.

O interesse da ciência contábil pelo capital intelectual não é inútil, pois, se a contabilidade se propõe a estudar o patrimônio das entidades e suas mutações, ela esta reconhecendo também a relevância dos ativos intangíveis e do capital intelectual na geração de riqueza para as empresas, contudo, o desafio encontrado pelos contadores reside nos métodos e técnicas usados para mensurar o que na maioria das vezes não é tangível e até mesmo de difícil apropriação de valor monetário.
Os gestores do novo milênio tem consciência que hoje numa empresa os ativos intangíveis são muitos mais valiosos que os ativos tangíveis e para Rezende (2000), “quantificar esse valor intangível, que é uma lacuna existente entre o balanço patrimonial de uma empresa e o seu valor de mercado, é um dos grandes desafios da atualidade, especialmente para as empresas que detêm elevado conhecimento técnico.”. Mais uma vez a contabilidade esbarra na subjetividade e falta de documentação comprobatória característica do capital intelectual, ainda mais que, tais evidências não aparecem à frente do contador como uma nota fiscal de compra de matéria prima.
A contabilidade para esta missão quase impossível se apóia em sofisticados sistemas de informações fruto do robusto avanço tecnológico de hoje e graças a dezenas de estudiosos do assunto que usam seus conhecimentos e suas ferramentas na busca de encontrar formas de estudar o fenômeno contábil denominado capital intelectual.

6.2 Origem e evolução

A humanidade experimenta constantes mudanças ao longo de sua existência, fruto da curiosidade do homem em buscar entender e modificar o ambiente a sua volta. Tais modificações transformam profundamente não só as relações de produção, mas também, as relações sociais. Toda a realidade se modifica quando uma pequena variável deste ambiente muda. Segundo Toffler (1980) a sociedade em que vivemos esta vivendo a “terceira onda” no quesito relacionado com o modo de produção, ou seja, o homem passou por duas ondas que basearam a economia. A “primeira onda” se caracterizou com a agricultura sendo a principal fonte de produção, a “segunda onda” surgiu com o capitalismo onde a sociedade mudou completamente para uma era industrial e até o presente momento estamos “surfando” a “terceira onda” que tem como principal fonte de movimento o conhecimento.
Nesta onda de conhecimento surgiu dentro das grandes empresas em meados do século XX a idéia de conhecimento como fonte geradora de riqueza. Surgiu o conceito de que uma boa informação vale ouro. Uma informação privilegiada, atual, verdadeira, relevante e econômica se tornou em muitos ramos empresariais um diferencial de alta competitividade. Neste cenário surgiu a necessidade de gerenciar o intangível, ou seja, administrar o capital intelectual dentro das empresas como um recurso a ser planejado, investido e controlado com o objetivo de colher o fruto motivador do capitalismo, ou seja, obter lucros.
Desde que foi descoberto que a parte intangível (capital intelectual) do patrimônio da empresa poderia ser evidenciado e administrado, surgiram diversos conceitos para suportar e alavancar os estudos a cerca do capital intelectual, por ser uma definição razoavelmente jovem ainda há muito a ser descoberto e muitas variáveis a serem testadas, mas, o que se vê é a evolução rápida de um ramo da ciência financeira a ser trabalhado a fim de gerar bons resultados dentro e fora das empresas.




6.3 Conceito

Para pesquisar sobre alguma coisa é necessário definir conceitos para entender o que se esta pesquisando e para Edvinsson & Malone (1998) “o capital intelectual é a posse do conhecimento, experiência aplicada, tecnologia organizacional, relacionamento com clientes e habilidades profissionais que proporcionem à empresa uma vantagem competitiva no mercado.”, e segundo os mesmos a demonstração do capital intelectual por uma formula matemática seria a soma do capital humano com o capital estrutural (CI = CH + CE) agregado ao que eles denominam de Navegador do Capital Intelectual, porém, a grande cartada aqui esta na enumeração das medidas constituintes do capital humano e do capital estrutural, que consequentemente devem variar a depender do ramo de atividade da empresa.

6.4 Estrutura do capital intelectual

Conforme um dos maiores estudiosos do capital intelectual Leif Edvinsson que foi a primeira pessoa no mundo a ocupar o cargo de Gerente de capital intelectual na empresa Skandia na Suécia em 1990, o mesmo enunciou que o conteúdo do capital intelectual esta dividido basicamente em duas formas. São eles o capital humano e o capital estrutural, conforme mencionado no parágrafo anterior.

Para Edvinsson & Malone (1998) o capital humano é:

O conhecimento, a experiência, o poder de inovação e a habilidade dos empregados de uma companhia para realizar as tarefas do dia a dia. Inclui também os valores, a cultural e a filosofia da empresa. O capital humano não pode ser propriedade da empresa.

E o capital estrutural é conceituado como:

Os equipamentos de informática, os softwares, os bancos de dados, as patentes, as marcas registradas e todo o resto da capacidade organizacional que apóia a produtividade daqueles empregados – em poucas palavras, tudo o que permanece no escritório quando os empregados vão para casa. O capital estrutural também inclui o capital de clientes, o relacionamento desenvolvido com os principais clientes. Ao contrário do capital humano, o capital estrutural pode ser possuído e, portanto, negociado.



6.5 A diferença entre o valor de mercado e o valor contábil

Um dos primeiros métodos e mais lógico para mensurar o capital intelectual de uma empresa foi proposto por Góis (2000) apud Wernk (2002) que de forma racional e intuitiva afirmou que “a diferença entre o valor de mercado e o valor contábil de uma entidade demonstraria o valor da parte intangível do patrimônio, ou seja, o valor do capital intelectual (CI = VM – VC)”. Mas algumas ressalvas são necessárias acerca deste modelo, tais como explicar a interferência das flutuações do valor de mercado da empresa e a influência da inflação neste valor, figurando como as principais desvantagens para explicar o valor do capital intelectual.

6.6 A razão entre o valor de mercado e o valor contábil

Outra metodologia foi enunciada por Lev (2000) apud Wernk (2002) que descreveu o valor do ativo intangível como à razão entre o valor de mercado pelo valor contábil, evidenciando o capital intelectual como um índice (CI = VM / VC).

6.7 O “Q” de Tobin

Para Fama & Barros (2000) apud Wernk (2002) o “Q” de Tobin descreve o capital intelectual como sendo a relação entre o valor de mercado das ações mais valor de mercado das dividas sobre e o valor de reposição de seus ativos físicos (CI = [VMA + VMD] / VRA).












6.8 O balanço intelectual

Conforme Padoveze (2000) apud Wernk (2002) o capital intelectual não se constitui como um ativo, mas, sim como uma origem de recursos para uma entidade, ou seja, “o capital intelectual na verdade é um passivo”. A demonstração do capital intelectual é disposta naquilo que ele chama de balanço intelectual conforme figura abaixo:


ATIVO
PASSIVO
Balanço Tradicional
Investimentos Tangíveis
Capital financeiro
Bens e direitos

Balanço Intelectual
Propriedade Intelectual
Capital Intelectual
Goodwill

Tecnologia

Competência

Outros

Total do ativo
Total do Passivo
Fonte: adaptado de Padoveze (2000) apud Wernke (2002)

Demonstrado o capital intelectual, a busca não acaba, esta só começando, temos que enumerar os elementos constituintes dos grupos descritos no balanço intelectual para depois valorarmos, esta pode ser a parte mais complexa e de fundamental importância no tratamento do capital intelectual, pois, ira refletir no valor patrimonial da empresa.

6.9 O capital intelectual e os princípios contábeis

Toda ciência apresenta pressupostos para ter validade, para que possua uniformidade na busca daquilo que se quer observar e comprovar, e com a contabilidade não poderia ser diferente. Além de objeto de estudo e metodologia, uma doutrina seja de qualquer ramo científico deve ser fundamentada por princípios, postulados e convenções.
Para Perez Jr. (1999) “Os princípios contábeis podem ser conceituados como premissas básicas acerca dos fenômenos econômicos contemplados pela contabilidade; tais premissas são à cristalização da análise e da observação da realidade econômica.”, como se vê a contabilidade precisa de tais princípios não só para se valer como ciência, mas também, para conseguir apreender e compreender os atos e fatos econômicos e financeiros dentro da entidade.
O capital intelectual como mais uma das novas correntes de pensamento dentro da ciência contábil, necessita se adequar aos princípios e convenções contábeis, pode-se até arriscar que para se conseguir evidenciar, mensurar e demonstrar o fenômeno denominado capital intelectual, temos que, quase que, obrigatoriamente nos apropriar dos conceitos e enunciados proferidos pelos princípios e convenções contábeis.
Primeiro deve-se esclarecer quando um princípio é geralmente aceito, isto quer dizer que ele deve atender algumas condições básicas para que isso ocorra, e segundo Perez Jr. (1999).

“São duas as condições básicas a fim de que um princípio supere a fase da tentativa e transforme-se em geralmente aceito no sentido de universalmente aceito e, portanto, incorporado à doutrina contábil: (a) deve ser considerado praticável pelo consenso profissional; (b) deve ser considerado útil.”

Segundo deve-se entender como são tratados os princípios contábeis no Brasil. Aqui convivem três fontes de estimada competência que abordam os princípios fundamentais de contabilidade, são eles a lei societária (lei 6.404/76), o Ipecafi/Ibracon/CVM e o conselho federal de contabilidade. Todos aceitos na esfera profissional contábil, contudo, o mais importante é que apesar de existirem três correntes distintas que explanam sobre os princípios contábeis, todos eles praticamente são unânimes nos conceitos sobre os princípios, e dividem os mesmos em grandes grupos assim definidos: referentes ao ambiente (postulados), referentes às regras (princípios) e referentes às limitações (convenções).
O principio do custo como base de valor é de grande valia na escrituração dos fatos contábeis, portanto, pode ser considerado como um alicerce na busca de valoração do capital intelectual dentro e quem sabe até, fora das organizações empresariais. Partindo do pressuposto de que podemos “inferir” um valor monetário para um elemento considerado como capital intelectual, à medida que, conseguirmos mensurar o seu custo de reposição. O que pretendemos aqui é diagnosticar o quanto vale um ativo intangível a partir de quanto teremos que desembolsar ou até deixar de ganhar se o não possuirmos, tudo isto baseado em registros objetivos como o valor para adquirir ou fabricar o determinado ativo.
Suportando o princípio do custo como base de valor para fornecer uma informação confiável e verdadeira, temos o princípio do denominador comum monetário que oferece uma resposta para tratar o valor de custo de um ativo em economias com expressivas flutuações inflacionárias. Primeiramente este princípio contábil só oferece cobertura para os fatos avaliáveis em valor monetário e em segundo lugar é que podemos avaliar ativos em valores constantes como os usados em unidades padrão na contabilidade em moeda constante. Um bom exemplo seria a escrituração dos valores do capital intelectual em forma de indexadores ou em moedas com poucas variações cambiais para depois, efetuar a conversão para a moeda nacionalmente aceita.
Outro alicerce para o princípio do custo como base de valor na mensuração do capital intelectual, vem aliado a conceitos da famosa ciência econômica que versa sobre a geração de valor (lucro) não só no momento da realização da receita que vem a ser mais um dos princípios de outra ciência bem conhecida, a também famosa contabilidade. Conforme descrito por Perez Jr. (1999) “Esse princípio tem sido um dos mais visados, principalmente pelos economistas, por julgarem que o processo de produção adiciona valor aos fatores que estão sendo manipulados, ao passo que, contabilmente, se verifica apenas uma integração de fatores.”. O entrave aqui reside na apuração do valor dos elementos patrimoniais antes da realização da receita, e como a contabilidade é uma ciência que se propõe a demonstrar o valor do patrimônio das entidades ela deve evidenciar tais valores o mais realisticamente possível e neste contexto, esta inserido o capital intelectual, que é um elemento do patrimônio que gera valores acima dos contabilizados no balanço convencional. Para reduzir este efeito se faz necessário a incorporação de fatores considerados pela economia, dentro das empresas e até transformar sistema de informação contábil que gera demonstrações num modus operandi periódico para um modus operandi permanente.
A convenção da objetividade oferece uma relevante limitação na avaliação do capital intelectual, que segundo a mesma (Perez Jr., 1999) “os fatos contábeis devem ser suportados por documentos ou critérios objetivos”, portanto, o desafio para a valoração do capital intelectual cresce, à medida que, tem de atender tais critérios, mas, o importante é que tais desafios só trazem mais consistência ao fenômeno denominado capital intelectual, que para ser evidenciado deve ser tratado de forma racional e cientifica.

6.10 Opções de avaliação de itens patrimoniais

Baseado nos princípios fundamentais de contabilidade editados pelo Conselho Federal de Contabilidade, por meio da resolução 750 de 1993, os elementos patrimoniais das entidades devem ser avaliados pelo seu valor de aquisição mais todos os outros fatores que foram integrados a este elemento patrimonial, com o objetivo de deixa-la à disposição da empresa, mais conhecido como, principio do registro pelo valor original, onde o que interessa é o custo histórico do patrimônio demonstrado no seu momento de compra.
O capital intelectual por se tratar de um item do patrimônio que busca diagnosticar a influência do conhecimento e da experiência dos funcionários aliado ao aparato tecnológico da empresa, assim como, da sua imagem dentro do mercado, não seria corretamente evidenciado por um registro que ocorreu no passado. Segundo os diversos doutrinadores da ciência econômico-administrativa, a empresa moderna aprende com o arrolar de seus processos e como tal, ganha ou perde valor durante o tempo. Então, seria mais coerente quantificar o capital intelectual a cada momento, a cada instante de “vida” da empresa, pois, assim teríamos o valor real e atual do patrimônio no momento em que fosse necessário a sua demonstração.
Conforme descrito por Malaquias (2008), a avaliação dos itens patrimoniais podem se basear em valores de entradas ou valores de saída, sempre relacionados com os três aspectos temporais, muito bem dispostos na tabela a seguir:
Avaliação de itens patrimoniais com base em valores de entrada
AspectoTemporal
OpçãodeAvaliação
Característica
Passado
CustoHistórico
Custo estático. Registra fatos ocorridos nopassado. Desconsidera alterações de preços
Presente
CustoCorrente
Considera a variação especifica dos preços de determinado bem ou serviço, apresentando o seu valor de compra na data em que se faz a avaliação
Futuro
Custo deReposiçãoFuturo
Expectativa do custo corrente na data da reposição futura de um item patrimonial
Avaliação de itens patrimoniais com base em valores de saída
AspectoTemporal
OpçãodeAvaliação
Característica
Passado
ValorRealizado
Útil para a mensuração das receitas e, não, dos ativos. Apresenta valores negociados emtransações já realizadas pela empresa
Presente
ValorCorrentede Venda
Proporciona informações sobre os valores de venda dos itens patrimoniais no mercado
Futuro
Valor deRealizaçãoFutura
Representa o benefício que a empresa auferirá com a realização de um item patrimonial no futuro
Fonte: adaptado de Fipecafi (2001) apud Malaquias (2008)





6.11 Valor intangível calculado (VIC)

Um método desenvolvido pela empresa da indústria farmacêutica americana National Câncer Institute Research Resource que segundo Stewart (1998), determina por meios objetivos um modelo para atribuir valor aos ativos intangíveis de uma organização, e, como o capital intelectual em grande parte é composto por elementos de natureza intangível, é interessante aplicar tal formulação na tentativa de mensurar o capital intelectual.
A lógica básica do modelo parte do pressuposto de que o valor dos ativos intangíveis de uma empresa é igual a capacidade que uma entidade tem de superar o desempenho dos ativos tangíveis semelhantes de um concorrente médio. Esta descrito abaixo passo a passo através de um exemplo como aplicar tal equação na avaliação do valor intangível calculado:
Passo 1 – Calcule as receitas antes da tributação referentes aos três últimos anos. Por exemplo: R$2.023.397.000,00
Passo 2 – Calcule a média dos ativos tangíveis no final do ano referente aos três anos, através do balanço patrimonial. Por exemplo: R$7.152.379.666,67
Passo 3 – Obtenha o retorno sobre os ativos, dividindo as receitas pelos ativos: 28,29%
Passo 4 – Obtenha o retorno médio sobre os ativos do setor para o mesmo período, pode se utilizar índices extraídos de revistas ou instituições especializadas. Imaginemos que o retorno seja de, 5,50%
Passo 5 – Calcule o “ganho médio do setor”. Multiplique o retorno médio sobre o ativo do setor pela média dos ativos intangíveis da empresa: R$393.380.881,67
Passo 6 – Calcule valor adicional das receitas da empresa provenientes de seus ativos em relação á média do setor, ou seja, “retorno em excesso”: R$1.630.016.118,33
Passo 7 – Calcule o imposto de renda sobre o valor adicional. Multiplique o resultado do retorno em excesso pela média da alíquota de imposto de renda no período analisado: R$244.502.417,75
Passo 8 – Diminua do retorno em excesso, o valor do imposto de renda encontrado no item anterior. Este valor representa o prêmio a ser atribuído aos ativos intangíveis: R$1.385.513.700,58
Passo 9 – Calcule o valor presente líquido do prêmio, dividindo o prêmio por um percentual apropriado, por exemplo, o custo do capital da empresa. Escolheremos a percentual de 20% representando o custo do capital: R$5.542.054.802,33
Fonte: Valores coletados da empresa Braskem S/A no site www.bovespa.com.br: acesso em 06/01/2009 e calculado pelo site www.acionista.com.br: acesso em 11/01/2009
Encontrado o valor intangível calculado (VIC) de R$ 5.542.054.802,33 para a empresa Braskem S/A referentes ao período de 2005 à 2007, que importa dizer que tal medida representa a habilidade da empresa em questão de usar os seus ativos intangíveis em relação ao uso de seus ativos tangíveis para superar as empresas de seu setor econômico de atuação.
Vale salientar que tal processo de calculo ainda não é conclusivo e nem de total certeza absoluta, apenas representa uma metodologia que deve ser aperfeiçoada de acordo com o ramo de atuação da empresa avaliada e mais utilizada por organismos oficiais, sendo contudo, um excelente referencial para iniciar a mensuração do valor intangível gerado por uma entidade.

6.12 Proposta para mensuração e demonstração

Pode-se dizer que, partindo dos conceitos mencionados anteriormente a contabilidade encontra um arcabouço orientador e motivador na busca para encontrar uma metodologia confiável e transparente para evidenciar, medir e demonstrar o capital intelectual, oferecendo subsídios relevantes para a gestão consciente dos ativos intangíveis de uma empresa.
O primeiro passo deve ser direcionado para estudar o ambiente interno das organizações visando encontrar sistemas de informações, valores humanos, criatividade, flexibilidade e inovação nos processos organizacionais para depois apropriar-lhe valores monetários com base em um ou mais princípios fundamentais de contabilidade como exemplo o custo de reposição ou custo histórico. E por fim avaliar o ambiente externo da empresa como clientes, fornecedores, economia, concorrência e governo e principalmente como eles afetam os valores inseridos na parte tangível e intangível do patrimônio da entidade.
Após colher as evidências com os métodos acima descritos, o ideal é efetuar uma revisão analítica e lançar um foco critico sobre os dados coletados com o intuito de gerar informações relevantes para compor um novo relatório contábil chamada de Demonstração do Capital Intelectual que deve integrar as notas explicativas das empresas denominadas sociedades anônimas, pois, como a formação e valoração do capital intelectual se trata de uma evidenciação de cunho subjetivo até o presente momento, não cabendo em um modelo muito sintético e sim num modelo mais analítico, haja visto, o grau de complexidade das variáveis que compõem tal assunto.



7 Análise dos dados e resultados

A pesquisa foi direcionada para profissionais do ramo econômico-financeiro, via questionário versando sobre o assunto capital intelectual, e os resultados foram obtidos de uma amostra relativamente pequena, com 25 profissionais da cidade de Salvador, Estado da Bahia, e, mesmo sendo pouco testado, pode-se dizer que a confiabilidade da pesquisa, reside na qualificação técnica do grupo entrevistado que possui conhecimentos relevantes a cerca do tema abordado.
Em relação idade dos indivíduos entrevistados, observa-se abaixo na figura 1 que aproximadamente dois terços da amostra está na faixa etária de profissionais que teoricamente estão ativamente no mercado de trabalho entre 21 e 40 anos.
Figura 1: Idade dos indivíduos entrevistados em anos completos

Houve um empate técnico na proporção de homens e mulheres abordados pela pesquisa, conforme Quadro 1, demonstrando que a opinião será eqüitativa em relação a visão dos dois sexos a cerca do tema da pesquisa.
Quadro 1Sexo
Descrição

%
Masculino
14
56
Feminino
11
44
Total
25
100
Quadro 1: Sexo dos entrevistados


A maioria dos entrevistados foram profissionais de nível superior conforme quadro 2 abaixo
Quadro 2Grau de instrução
Descrição

%
Superior imcompleto
4
16
Superior completo
21
84
Total
25
100
Quadro 2: Grau de instrução dos entrevistados

Dentre os profissionais pesquisados houve uma distribuição bem interessante no nível de formação superior encontrado, sendo que grande maioria ainda esta no nível de bacharelado, mas com alguns especialistas e mestres conforme visto na figura 2 abaixo.
Figura 2: Nível acadêmico dos profissionais entrevistados










Em sua grande maioria, os contadores foram quase metade da amostra, referendando que a opinião que ira surgir desta pesquisa será a ótica da área contábil a cerca do tema abordado pela pesquisa, veja figura 3 abaixo:
Figura 3: Ocupação dos entrevistados

O tempo na ocupação acima mencionada demonstra que os indivíduos entrevistados em sua maioria não possuem muita experiência dentro da área de atuação financeira, contudo vale lembrar que este perfil pode ser um indicativo de profissionais recém formados, que saíram recentemente da academia e com muitos conceitos recentes da sua área de atuação. Em sua maioria os entrevistados estão na faixa entre 5 a 10 anos no tempo de ocupação.
Figura 4: tempo na ocupação em anos completos
Para a maioria dos profissionais entrevistados o capital intelectual é um diferencial competitivo de uma empresa, evidenciando que os benefícios criados pela mensuração, demonstração e gestão de tal recurso pode ser uma realidade na busca de vencer a competição com os concorrentes.
Figura 5: O capital intelectual é um diferencial competitivo para uma empresa?

O contra ponto do quesito anterior é ratificado neste quesito, deixando transparecer que seria importante divulgar o capital intelectual, mas não com toda a convicção de que seria um diferencial para uma empresa.
Figura 6: É importante divulgar o capital intelectual de uma empresa?
Observa-se que para grande maioria o capital intelectual é um componente do grupo do ativo, sendo considerada uma aplicação de recursos para a operacionalização da empresa de forma eficiente.
Figura 7: O capital intelectual é um componente do grupo patrimonial do?

Novamente analisando os dados coletados percebe-se que o valor de uma empresa e a possível melhora na eficiência vem principalmente dos recursos humanos (26%) que juntamente com a boa aplicação dos recursos financeiros (20%) aliado a uma boa imagem da empresa frente ao mercado, são os pontos que devem ser investidos para a geração de riqueza e prosperidade empresarial.
Figura 8: O recurso mais importante dentro de uma empresa?



Os elementos constituintes do capital intelectual são em primeiro lugar aqueles ligados aos recursos humanos da empresa conforme disposto no quadro abaixo, observando que os primeiros estão ligados ao que os especialistas em capital intelectual denominam de capital humano e capital estrutural.
Quadro 3Os elementos constituintes do capital intelectual
Descrição

%
Competência
19
13
Experiência
16
11
Funcionários
14
10
Treinamento
12
8
Criatividade
12
8
Iniciativa
10
7
Know how
10
7
Inovação
8
6
P&D
5
3
Marcas
5
3
Patentes
5
3
Clientes
5
3
Tecnologia
4
3
Fidelização
4
3
Parcerias
3
2
Benefícios futuros
3
2
Propaganda
2
1
Software
2
1
Tempo de mercado
2
1
Caixa
1
1
Lucros futuros
1
1
Total
143
100
Quadro 3: Os elementos constituintes do capital intelectual são?












O valor de realização futura (44%) é o critério mais apropriado segundo os entrevistados para avaliar os itens intangíveis do patrimônio, indo de encontro ao que os princípios fundamentais de contabilidade enunciam para a mensuração de tais fatos. Mas, mesmo a legislação em vigor no Brasil e no mundo percebe que para a valoração de bens imateriais , que se formam ao longo da operacionalização da empresa não podem ser avaliados pelo seu custo historio e sim pelo seu valor na geração de benefícios futuros.
Quadro 4Critério de avaliação de itens intangíveis
Descrição

%
Valor de realização futura
11
44
Custo de reposição futuro
4
16
Valor corrente de venda
4
16
Custo histórico
3
12
Custo corrente
2
8
Valor realizado
1
4
Total
25
100
Quadro 4: Critérios de avaliação de itens intangíveis

A demonstração do capital intelectual ainda não é uma realidade nas empresas brasileiras, um dos únicos casos registrados é o navegador do capital intelectual divulgado pela empresa sueca Skandia, que de certa forma deixa transparecer o fenômeno capital intelectual nas operações da empresa Skandia, mas, até o momento nenhuma sociedade anônima aqui no Brasil ousou captar e demonstrar o capital intelectual de alguma forma em suas demonstrações financeiras. A pesquisa em questão resolveu detectar onde deveria ser encaixada tal evidenciação e não por acaso, os profissionais do ramo financeiro entrevistados determinaram que cabe em notas explicativas (28%) a demonstração do capital intelectual de uma forma meio subjetiva e meio objetiva, sendo qualificado em toda a sua extensão e quantificado por critérios diretos e objetivos. Logo em seguida veio a soma do capital humano com o capital estrutural (24%) como forma de mensurar e quem sabe até demonstrar o capital intelectual por meio de um modelo por extenso onde seriam dispostos os elementos constituintes de cada grande grupo sendo valorado por modelos matemáticos próprios para itens tangíveis e intangíveis. Em terceiro lugar surge o critério baseado nos benefícios futuros que podem ser alçados por tais elementos intangíveis mais o valor de reposição de tais ativos intangíveis (20%) sendo bastante coerente este foco, pois, avalia o valor histórico na geração o bem imaterial mais os seus possíveis benefícios criados mais o valor que pode ser despendido para a sua reposição em dado momento. O mais importante nestes e nos outros métodos demonstrados no quadro 5, é que explanam formas de transparecer o valor do capital intelectual de uma entidade alguns de modo simples como a diferença entre o valor contábil e o valor de mercado da empresa (12%) e outros mais complexos como nas notas explicativas. Mas todos com suas vantagens e desvantagens. Por fim, tais critérios servem para que profissionais e estudiosos do assunto se debrucem sobre tais modelos a fim de criar uma ferramenta consistente para auferir e descrever o capital intelectual nas suas diferentes formas.
Quadro 5Critérios para mensurar o capital intelectual
Descrição

%
Deve ser reconhecido, mensurado e evidenciado nas Notas Explicativas
7
28
Capital Humano + Capital Estrutural
6
24
Benefícios Futuros + Valor Reposição Ativos Intangíveis
5
20
Valor de Mercado – Valor Contábil
3
12
Valor de Mercado / Valor Contábil dos Ativos
2
8
Valor Unitário Ações Mercado x Número Ações Mercado) – Patrimônio Liquido
1
4
Não pode ser medido
1
4
(Valor Ações Mercado + Valor Dividas Terceiros) / Valor Reposição Ativos
0
0
Total
25
100
Quadro 5: Critérios para mensurar e evidenciar o capital intelectual

A conclusão com o estudo estatístico da percepção do fenômeno financeiro do capital intelectual pelos profissionais desta área econômica estão descritos no quadro 6 a seguir, onde estão disposta as possíveis vantagens obtidas na demonstração e gestão do capital intelectual pelas empresas de diversos ramos de atuação. O fator de maior beneficio seria a melhora da imagem da empresa frente ao mercado e seu publico interno e externo (26%), salientando que o próprio capital intelectual esta configurado com a imagem da empresa e por esse motivo seria melhor gerida caso fosse evidenciado o seu valor e as formas de alavancada. O pessoal interno da empresa também teria mais transparência e uma forma de reconhecer a sua utilidade na geração de riqueza para a empresa, e por esse motivo 23% dos entrevistados alegaram que seria um fator motivacional para os funcionários a demonstração do capital intelectual. Outra vantagem esta relacionada ao valor de mercado da empresa que a qualquer tempo teria o valor justo do empreendimento para o mercado (13%) se caso fosse evidenciado nas demonstrações contábeis o capital intelectual. Os administradores também conseguiriam melhorar a navegação do sistema empresa caso fossem mensuradas e disposta as variáveis intangíveis de forma mais clara, real e objetiva o fenômeno contábil denominado capital intelectual e por isso para 12% dos profissionais da área financeira a demonstração consistente do capital intelectual facilita a gestão da entidade empresarial. De modo que outras vantagens também seriam atingidas em menor ou maior grau. Mas com toda certeza quanto mais detalhado, conciso, preciso e real o quadro financeiro pintado da empresa melhor a visão de todos os usuários da informação financeira para gerir de forma eficiente os recursos dispostos para a obtenção dos resultados planejados.
Quadro 6Vantagens quando é demonstrado o capital intelectual
Descrição

%
Melhora a imagem da empresa
22
26
Motiva o pessoal interno
19
23
Facilita a avaliação da empresa no mercado
11
13
Facilita a gestão da empresa
10
12
Possibilita prever os ganhos futuros da empresa
6
7
Torna mais seguro o relacionamento com clientes
6
7
Diminui decisões emocionais por parte da administração
5
6
Amplia o mercado de trabalho dos contadores
3
4
Aumenta a previsibilidade de variações no preço de ações
2
2
Nenhum aspecto positivo
0
0
Total
84
100
Quadro 6: Vantagens quando é demonstrado o capital intelectual

O quadro 7 efetua uma avaliação do capital intelectual baseado na diferença entre o valor de mercado menos o valor do capital realizado da empresa Braskem S/A, o valor de mercado foi obtido multiplicando o numero de ações disponíveis para a venda (categoria BRKM3) pelo valor da cotação na bolsa de valores de São Paulo (Bovespa) nas datas de 31/12/2006 e 31/12/2007. e na mesma data foi capturado o valor do capital realizado disposto no patrimonio liquido da mesma empresa.
O valor encontrado na diferença entre o valor contabil e o valor de mercado nos dois anos avaliados, foi considerado como o valor do capital intelectual que registrou o montante de R$1,6 bilhões em 2006 e R$1,4 bilhões em 2007.
Para obter o nível de impacto do valor do capital intelectual nas atividades da Braskem foi registrado o valor do lucro liquido dos dois anos e efetuada uma análise financeira no sentido de confrontar a situação em relação ao referido lucro liquido e em relação ao valor do capital realizado.
Os indices encontrados evidenciaram que o valor do capital intelectual em relação ao valor contabil representou 0,37 em 2006 e 0,31 em 2007, ou seja, o valor de mercado da empresa estava um terço a mais do valor registrado na contabilidade, representando a parte intangível da Braskem.
Percebe-se também que os indicadores de produtividade demonstram que o valor do lucro liquido em relação a parte tangivel é menos expressivo (0,02 em 2006 e 0,12 em 2007) do que em relação a parte intangível (0,06 em 2006 e 0,38 em 2007), claro que guardando as devidas proporções do valor contabil (R$4,3 bilhões em 2006 e R$4,6 bilhões em 2007) versus o valor do capital intelectual antes mencionado.
Braskem S/A
Valor Contabil (capital realizado)
ANO 1 (2006)
ANO 2 (2007)
R$ 4.311.887.000,00
R$ 4.640.947.000,00
Valor Mercado (nr ações*cotação)
ANO 1 (2006)
ANO 2 (2007)
R$ 5.926.432.000,00
R$ 6.067.345.500,00
Valor Capital Intelectual (VM - VC)
ANO 1 (2006)
ANO 2 (2007)
R$ 1.614.545.000,00
R$ 1.426.398.500,00
Lucro Liquido
ANO 1 (2006)
ANO 2 (2007)
R$ 101.349.000,00
R$ 547.584.000,00
Valor Capital Intelectual / Valor Contabil
ANO 1 (2006)
ANO 2 (2007)
0,37
0,31
Lucro Liquido / Valor Contabil
ANO 1 (2006)
ANO 2 (2007)
0,02
0,12
Lucro Liquido / Valor Capital Intelectual
ANO 1 (2006)
ANO 2 (2007)
0,06
0,38
Quadro 7: Indicadores calculados sobre as demonstrações da empresa Braskem S/A

Os dados do exemplo citado no item 6.11 desta pesquisa foram coletados junto as demonstrações contabeis da empresa Braskem S/A disponíveis no site da Bovespa e do sitio acionista.com.br, e evidenciam que no periodo entre 2005 e 2007 o valor intangível calculado (VIC) representa aproximadamente R$5,5 bilhões.
Notando que esta maneira alternativa de mensuração do capital intelectual remonta o desmpenho dos ativos tangíveis na geração de valor intangível para a empresa.










8 Conclusão

As empresas modernas buscam incessantemente alcançar a prosperidade e sustentabilidade de suas operações, e para tanto lançam estrategias organizacionais fundamentadas em metodos ciêntificos para conseguir atingir os seus objetivos. Empresas estas inseridas numa sociedade baseada principalmente na informação e no conhecimento. Com todos esses ingredientes é que surgiu a idéia de capital intelectual, que segundo Stewart (1998) nada mais é do que “a soma do conhecimento, informações, propriedade intelectual, experiência que pode ser utilizada para gerar riqueza” e vantagem competitiva para as entidades empresariais, desde que, identificado e gerido de forma racional, com o intuito de alavanca-lo.
A pesquisa em questão obteve algumas formas de identificar e mensurar o capital intelectual dentro das organizações, por meio de metodologias criadas por doutrinadores especialistas neste assunto, e, o que foi evidenciado é que os modelos propostos possuem muito mais limitações do que vantagens. Do ponto de vista das limitações foi encontrada dificuldade em transparecer o valor real do capital intelectual, pois, nos dois casos aplicados (diferença entre valor de mercado e valor contabil versus Valor intangível calculado – VIC) percebeu-se que ambos demonstraram valores diferentes e avaliam fatores distintos, e de certa forma ainda pautando um pouco pela subjetividade para alcançar a valoração do capital intelectual contrariando o postulado da obejetividade da ciência contábil. Sobre a otica de que a mensuração e demonstração do capital intelectual oferece vantagens para as empresas, observa-se que a definição dos elementos constituintes do capital intelectual pela empresa para a sua valoração, acaba trazendo a tona variáveis relevantes para subsidiar a tomada de decisão pelos administradores, que antes não eram levadas em conta pela contabilidade dita tradicional.
A influência do capital intelectual sobre o valor de uma empresa, reside principalmente noa reafirmação e reconhecimento de que o maior recurso organizacional são as pessoas, o fator humano quando bem investido e gerido oferece ganhos certas vezes imensuráveis. Fisicamente falando , o conhecimento, a experiência e a informação relevante são a reação da ação sobre o funcionário e certos recursos tecnologicos quando a tese é capital intelectual.
Por fim no presente momento ainda não existe no Brasil uma demonstração do capital intelectual, a legislação em vigor e nem os órgãos oficiais ainda não prevêm tal relatorio contábil, contudo por questões gerenciais tal evidencia poderiam ser bem divulgadas por meio das notas explicativas, que demonstram ao mesmo tempo fatos qualitativos e quantitativos.
9 Recomendações para futuros trabalhos

A presente pesquisa oferece alguns intrumentos uteis na avaliação tanto qualitativa quanto quantitativa dos recursos intangíveis em especial o capital inetelctual, que de certa forma se compõe da soma de recursos tangíveis e intangíveis, porém, em futuras pesquisas o campo de amostragem podera ser melhor aproveitado no sentido de avaliar não só uma empresa, mas, dezenas de empresas de diversos setores economicos, com o intuito de determinar um perfil caracteristico da influencia do capital intelectual nas empresas pesquisadas.
Outro possibilidade seria utilizar todas as formas de mensuração e evidenciação do capital intelectual disponiveis pelos doutrinadores do assunto e aplica-los nas empresas de capital aberto, para que com isso, consiga fornecer subsidios alternativos para os administradores tomarem decisões a cerca de como gerir e criar mais valor para os recursos intangíveis, bastante similar ao ramo da contabiliade de custo que se apropria de alguns metodos de custeio a fim de tomar decisões gerenciais a cerca de produção e custo de produção.




















10 Referência


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acesso em 06/01/2009


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