terça-feira, 2 de setembro de 2008

AS CRISES DECORRENTES DA GESTÃO DOS CUSTOS DA PRODUÇÃO E OS IMPACTOS NOS CUSTOS AMBIENTAIS.

Francisco Samuel Villas Boas[1]
Fernando José Villas Boas[2]


1. Introdução

As preocupações dos gestores e empresários das organizações com a apuração, análise, controle e gerenciamento dos custos de produção dos bens e serviços são antigas. Atualmente, analisam-se também os reflexos negativos do modo de produzir que impactam o meio ambiente. Essas preocupações se justificam em função da busca, pelas entidades, de melhorias competitivas no seio da sociedade e no ambiente empresarial.
A competição no Mundo dos negócios é um dos fatores responsáveis pela sobrevivência e falência das empresas, portanto, o gerenciamento dos recursos de produção é condição primordial para uma adequada apreensão, avaliação, controle e análise dos custos, despesas e resultados das atividades das organizações. Por isso, também, explicam-se as constantes crises com o desenvolvimento técnico e cientifico nas áreas diversas do saber humano que contribuem para a definição de estratégias competitivas e um melhor desempenho empresarial.
Porter define a estratégia competitiva como “a busca de uma posição competitiva favorável em um ramo de atividade, o campo ou a arena fundamental onde ocorre a concorrência. A estratégia competitiva visa estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra as forças que determinam a concorrência na indústria"[3]. A vantagem competitiva pode ser conquistada por meio de reduções ou eliminações de custos ou de produtos diversificados ou diferenciados.
Com base nesse raciocínio, o autor, citado acima, delineou um instrumento de gestão, denominado cadeia de valores, o qual auxilia na construção da vantagem competitiva e possibilita agregar valor ao produto/serviço, objetivando garantir, dessa forma, a satisfação do cliente.
De acordo com a utilização desse instrumento, a empresa pode ser gerida, como um sistema aberto, que admite ser dividido em subsistemas, com áreas funcionais compostas por atividades estrategicamente relevantes, permitindo e propiciando a compreensão do comportamento dos custos em um negócio específico ou em uma indústria e das fontes potenciais de diferenciação existentes. Uma instituição deverá obter ou ganhar vantagem competitiva executando as suas operações com parceiros que protegem o meio ambiente, estrategicamente importante, de uma forma mais eficiente que a concorrência.
A compreensão e a visão emergente preocupando-se em incorporar novos paradigmas de custeio e gestão ambiental vem se constituindo em diferenciais competitivos, para as instituições que saem na frente, investindo em recursos que lhes garantam condições de acompanhamento da gestão da produção e dos impactos no meio ambiente.

2. O Cenário das Crises de Gestão dos Custos da Produção e Ambientais.

A Revolução Industrial trouxe o aparecimento das primeiras indústrias e os gestores vêm respondendo satisfatoriamente aos anseios empresariais em relação aos problemas da produção e dos respectivos custos. Contudo, só passaram a existir preocupações mais profundas com os custos ambientais e os problemas causados ao meio ambiente com o aparecimento das crises de abastecimento de matéria prima.
As crises com dificuldades de substituição das substâncias naturais, provocadas por fenômenos originados por mau uso dos recursos da natureza, vêm se constituindo em fator estratégico e competitivo no mercado pós-moderno e globalizado.
O processo de globalização econômica foi criado ignorando considerações ambientais. No presente, o comércio exterior está se mostrando mais sensível e prudente quanto a este tipo de crise, principalmente nos países desenvolvidos, forçando os países emergentes a adotarem padrões de qualidade ambiental, a fim de que seus produtos sejam aceitos no livre comércio. Com a criação da ISO 14000, os padrões de qualidade ficaram mais rigorosos, levando as empresas a praticarem a gestão ambiental, para continuarem competitivas no mercado.
As informações sobre a gestão dos custos e recursos utilizados na produção podem se tornar significativas, se, apuradas de forma adequada, forem fundamentais para orientar as decisões administrativas de natureza estratégica, operacional e financeira, as quais são importantes e críticas para o futuro da empresa.
Assim, a otimização dos custos se constitui em uma arma de competição que garante aumento da produtividade e proporciona maior capacidade de saúde financeira à empresa, o que poderá, em certos casos, assegurar sua continuidade. Além disso, a instituição precisa oferecer um preço mais competitivo que pode ser obtido com o valor do seu custo, estando abaixo dos da concorrência.
Na Gestão Ambiental, o primeiro passo para conquistar a vantagem competitiva em custo é eliminar o desperdício. Segundo Porter e Linde[4], as empresas não conhecem o custo da poluição em termos de desperdícios de recursos, de esforços e diminuição de valor para o consumidor.
Dessa forma, a empresa pode, inicialmente, estar avaliando o seu processo através de uma auditoria ambiental, por exemplo, visando identificar os custos desnecessários como gastos excessivos com energia e água. A partir de então, o controle de custos pode ser usado como ferramenta para prevenir futuros impactos ambientais.
Sabe-se que um dos objetivos de toda empresa é a obtenção de lucro. Porém, nos tempos pós-modernos, atualmente, o seu desafio competitivo consiste não somente em alcançar altas taxas de lucratividade, como também em se tornar e se manter sustentável, o que influenciará sobremaneira em seus fluxos de caixas futuros e na sua capacidade de lograr retornos contínuos dos seus investimentos.
Segundo Marsili[5], os bancos que assinaram o “Pacto Verde” e, principalmente, organizações de desenvolvimento (como BIRD, BID, ...) oferecem linhas de crédito específicas para projetos ligados ao meio ambiente com melhores condições, tais como, maior prazo de carência e menores taxas de juros. Para tanto, analisa-se a performance ambiental das empresas no momento de aprovar e conceder os créditos para os financiamentos de investimentos. Dessa forma, as empresas que poluem o meio ambiente podem precisar pagar juros com taxas mais elevadas ou, até mesmo, ter o seu pedido de crédito recusado.
A gestão ambiental, quando correlacionada com os aspectos econômicos, financeiros e contábeis, permite a apreensão, identificação e avaliação dos custos ambientais gerados nas atividades, processos produtivos e organizacionais. Assim, a empresa pode estabelecer planos de ações e mecanismos de controle com o objetivo de reduzir ou eliminar tais custos, melhorando decisivamente a eficiência da utilização de recursos da entidade, fator chave para acumulação de riquezas e eliminação de crises.
O empresário capitalista, baseado no decorrer de sua evolução histórica, norteou o desenvolvimento econômico e tecnológico tendo como parâmetro a idéia de maximização de lucros, buscando o menor custo possível. Não considerando, dessa maneira, todos os custos sociais e ambientais, para um desenvolvimento sustentável, no processo de geração de riqueza. Isso trouxe como conseqüências, as diversas crises na gestão da produção e no uso dos insumos naturais, como o rápido desflorestamento, a degradação das bacias hidrográficas, a perda da diversidade biológica, a falta e contaminação da água, a excessiva erosão do solo e a poluição do ar, entre outras crises, gerando a crise ambiental.
O relatório da “Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável” in North[6] – definiu o desenvolvimento sustentado “como aquele que responde às necessidades presentes sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”, enquanto Attuy[7] comenta que “... o desenvolvimento sustentado pressupõe aumento da renda nacional, em período de longo prazo, sem prejuízo do progresso e sem ferir a ecologia”.
Procurando escapar das crises, além de assegurar sua competitividade e sustentabilidade, as empresas buscam implantar os procedimentos e tecnologias com os mecanismos de gestão ambiental, a qual pode ser entendida, segundo Nahuz[8] “como o conjunto dos aspectos da função geral de gerenciamento de uma organização (inclusive o planejamento), necessário para desenvolver, alcançar e manter sua política e seus objetivos ambientais”.

3. Gestão dos Custos de Produção e os Custos Ambientais como Causas de Crises nas Organizações e na Sociedade.

A Gestão Ambiental inclui uma série de atividades que devem ser administradas, tais como, formular estratégias de administração do meio ambiente, assegurar que a empresa esteja em conformidade com as leis ambientais, implementar programa de prevenção à poluição, gerir instrumentos de correção de danos ao meio ambiente, adequar os produtos às especificações “ecológicas”, além de monitorar o programa ambiental da empresa.
Os diversos Governos no mundo, por meio de legislação, vêm buscando punir práticas das empresas que tenham impactos ambientais significativos, através de multas e proibições. Segundo Martins, “a Alemanha possui uma legislação que impede produtos importados que possuem embalagens agressivas ao meio ambiente de entrarem no país"[9]. Portanto, os governos possuem poderes para decretar leis que acabam definindo um mercado mais restrito para as empresas "ecologicamente incorretas".
Porém, enquanto as empresas não se conscientizarem da importância de sua atuação ecologicamente correta, as regulamentações serão necessárias, devido a algumas razões elucidadas por Porter[10]:
a) criar pressão para motivar as empresas a inovar;
b) melhorar a qualidade ambiental para os casos em que a inovação e os resultados de melhoria na produtividade de recursos não suplantem o custo de adequação;
c) alertar e educar as empresas sobre possíveis ineficiência de recursos e áreas potenciais para melhorias tecnológicas;
d) aumentar a probabilidade de que as inovações nos produtos e no processo em geral sejam amistosas ao meio ambiente;
e) criar demanda por melhorias ambientais até que empresas e consumidores sejam capazes de perceber e mensurar as ineficiências;
f) nivelar o campo de batalha durante o período de transição para soluções ambientais baseadas em inovações, assegurando que uma empresa não possa galgar posições competitivas em relação às outras fugindo dos investimentos de natureza ambiental.
O envolvimento das organizações com as questões sócio-ambientais podem transformar-se numa oportunidade de negócios. O conceito que a sociedade faz da empresa é um dos fatores determinantes do sucesso ou fracasso do negócio, uma vez que, está correlacionado ao goodwill da empresa, seu ativo intangível.
Os acionistas mais informados tendem a preferir injetar recursos em empresas com preocupação ambiental, por serem mais seguras e conceituadas, o que garantem o recebimento dos seus dividendos. Dessa forma, as empresas ecológicas podem assegurar o aporte de recursos para alavancar os seus negócios.
Sabe-se também, que o objetivo de todas as empresas é obtenção de lucro, o qual é fundamental para novos investimentos visando o desenvolvimento da empresa. Segundo Donaire, “as portas do mercado e o lucro ficam cada vez mais estreitas para as empresas que desprezam as questões ambientais na tentativa de maximizar seus lucros e socializar o prejuízo. Atitudes e medidas para não poluir ou poluir menos tornam-se condição fundamental para bons negócios e para a própria sobrevivência da empresa no mercado”[11].
Para Hojda[12], a implantação da gestão ambiental exige Treinamento, Conscientização e Competência dos funcionários envolvidos o que ajudará na eficiência e na melhoria do processo de produção, reaproveitando o máximo da potencialidade da empresa.
Além disso, de acordo com as idéias de Marsilli[13], os empregados sentem-se melhor por estarem associados a uma empresa ambientalmente responsável a qual demonstra ter mais subsídios de assegurar sua continuidade e o emprego de seus funcionários. A empresa, tendo uma imagem segura e confiável, promove a satisfação dos seus empregados que pode até mesmo resultar em aumento de produtividade da empresa.
A Gestão Ambiental exige das empresas maior investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), pois para minimizar o dano ambiental, a área de desenvolvimento será incentivada a procurar novas alternativas de produção e inovações. Nesse aspecto, as recentes inovações servem como estratégia competitiva tanto em liderança de custo como em diferenciação de produtos.
Segundo Porter[14], as inovações para contornar as desvantagens, como por exemplo produzir sem poluir, não só economizam a utilização de recursos como podem criar vantagens de fator, pois a empresa vai procurar desenvolver vantagens competitivas mais sofisticadas como tecnologia protegida pelo direito de propriedade ou economias de escala devido a instalações mais automatizadas que podem ser mantidas por mais tempo, além de proporcionar preços mais altos. Ao mesmo tempo, criam-se pressões para aperfeiçoar e especializar mais rapidamente outros fatores, como recursos humanos qualificados ou infra-estrutura.
A reciclagem é um exemplo da evolução das pesquisas sobre tecnologias limpas. Jöhr, apud Hojda[15] cita a Opel e a Mercedes-Benz, entre outras várias indústrias automobilísticas, que há alguns anos projetam seus automóveis com materiais que podem ser reaproveitados na fabricação de um carro novo. Destaca ainda que “na Holanda, 60% dos vidros utilizados na indústria de embalagem são reciclados, enquanto, no Brasil, apenas 30%”.
Martins e De Luca relatam que “o respeito com os problemas ambientais será fator determinante no desenvolvimento dos negócios”[16], pois muitos empresários estão com medo de serem os vilões da sociedade. Comprovando isso, François Moyen, presidente da Belgo Mineira, declarou na Revista Exame do dia 10 de julho de 1997 (p.45): “mais vale investir que ter a imagem estragada, pois o custo para recuperá-la será mais alto”. E ele conhece bem este problema, pois suas usinas Monlevade e Sabará foram classificadas como as mais poluidoras do Estado por uma associação ambientalista de Minas Gerais, enfrentando dificuldades para mudarem as suas imagens de poluidoras.
Ademais, as diversas ONGs pressionam empresas por meio de campanhas veiculadas na imprensa e lobby junto a legisladores. A empresa, sob a mira de uma ONG, será bombardeada na imprensa e provavelmente passará a ser percebida pela população como ambientalmente irresponsável, o que representa forte publicidade negativa, afetando a competitividade do produto da empresa no mercado, além de representar a necessidade de maior custo em publicidade para restituir a sua imagem.
Cada empresa precisa desenvolver instrumentos econômicos, contábeis e financeiros adequados, a fim de melhor planejar e controlar as questões pertinentes ao meio ambiente, que tenham influência significativa nas estratégias de negócios da organização, com reflexos em sua competitividade.
Segundo Bailey[17], o controle de custos ambientais de forma segregada pode beneficiar muitas decisões estratégicas da empresa, tais como:
a) investimentos em equipamentos de prevenção da poluição;
b) investimentos em Ativo Imobilizado;
c) decisão de aquisição ou diversificação, uma vez que a empresa é capaz de conhecer o passivo ambiental associado à propriedade a ser comprada;
d) mix de produtos, em que os aspectos ambientais podem ajudar a identificar os produtos realmente lucrativos para a empresa, por agredir menos o meio ambiente;
e) tecnologia de produtos (principalmente design para produtos “verdes”, ou seja, ambientalmente amigáveis); e
f) definição de produto e do negócio, pois serão considerados, de antemão, os custos ambientais envolvidos.
Visando auxiliar aos gestores de negócios a tomar decisões através de análises econômico-financeiras, envolvendo o meio ambiente, uma série de softwares tem sido desenvolvida. A tabela 1 relata alguns deles:
Tabela 1: Softwares Econômicos-Financeiros de Apoio à Gestão Ambiental
SISTEMAS DE SOFTWARES
MÉTODO DE ESTIMATIVA DE CUSTO
Custeio e Análise Financeira de Projetos de Prevenção de Poluição
Custo estimado pela multiplicação de salários/hora pelo número de horas gastas em atividades de projetos de Prevenção de Poluição e número de ocorrência das atividades. Análise qualitativa e quantitativa de projetos de prevenção de poluição.
Custos sociais não inclusos
PAPA – Modelo de Investimento
Custos são estimados pelos usuários através de fontes disponíveis, incluindo, por exemplo, relatórios de resíduos perigosos. Entre os tipos de custo estão os de modificação da planta, os de trabalho e de desenvolvimento de fornecedores.
Prevenção da Poluição/ Finanças
Os custos operacionais são levados em conta tanto para o processo corrente, quanto para o alternativo. Custos de capital são imputados ao processo alternativo.
Modelo de Custo para Materiais Perigosos
Usuários especificam os valores para os parâmetros.
Custos baseados em estimativas de banco de dados Navais e catálogos.
Team & Trade
Todos os dados de custo devem ser imputados pelos usuários. Software de custeio do ciclo de vida e avaliação do ciclo de vida.
Estudos de Embalagem Tellus
Custos ambientais são estimados usando custos marginais de controle de poluição como uma aproximação do desejo social por pagar um preço que considere a poluição ambiental. Método associa valores monetários aos impactos. Calcula custos ambientais de produção, custos convencionais e custos ambientais com descarte
Eco-Contabilidade
Os usuários identificam custos através de entrevistas e documentação disponível. Desenvolvido para o gerenciamento de custos e informação sobre o meio ambiente. Inclui mais de 100 atividades padrão e 50 medidas de desempenho. Inclui cinco categorias de custos em sua matriz e permite benchmarking de custos para comparações.
SCM
Estimativa de custos baseada em custos internos e informações programadas, parâmetros da capacidade da fábrica e operações, custos da fábrica, equações de custo/capacidade, custos e milhas de transporte, parâmetros de operação estandarte, e uma tabela de taxas padrão. Custo do Ciclo de Vida calculado em três diferentes módulos para tratamento; custos de processos de descarte calculados de acordo com três tipos de resíduos. Não estima passivos e custos menos tangíveis. Não é gerado nenhuma opção de mitigação de resíduos.


Modelo de Prevenção de Custos com Resíduos
Fornece um instrumento para mensurar os elementos de custos associados a cada tipo de resíduo. Base para coleta de custos pode ser aplicada para fábricas em geral. São consideradas as fases de transporte e armazenamento do ciclo de vida do produto. Considera custos convencionais e custos “ocultos” associados com as operações de tratamento de resíduos, embalagem, armazenamento de resíduos, etc. Custos contingentes ou menos tangíveis não são levados em conta. Considera o monitoramento de resíduos e seus custos
Modelo de Custos Ambientais da Rohm and Haas
Custos são estimados pelos usuários através de um sistema baseado no Manual de Benefícios de Prevenção da Poluição e em quatro tipos de entrada. Desenvolvido para valorar, em um projeto, custos presentes e futuros referentes ao meio ambiente e descarte de resíduos. Considera custos convencionais, potencialmente ocultos e contingentes.
(Fonte: Infomation on Financial... decision Softwares Systems and Tools pg. 1-19, http://www.epa.gov/opptintr/acctg/rev/tbl3-5-htm, April-24-98)
De acordo com Ribeiro, “os custos ambientais devem compreender todos aqueles relacionados, direta ou indiretamente, com a proteção do meio ambiente, como:
1- todas as formas de amortização (depreciação, amortização e exaustão) dos valores relativos aos ativos de natureza ambiental possuídos pela companhia;
2- aquisição de insumos próprios para controle/redução/eliminação de poluentes;
3- tratamento de resíduos dos produtos;
4- disposição dos resíduos poluentes;
5- tratamentos de recuperação/restauração de áreas contaminadas; e
6- mão-de-obra utilizada nas atividades de controle/preservação/recuperação do meio ambiente”[18].
Os tipos de custos que são atribuídos aos gerentes do meio ambiente são classificados em quatro categorias, como descreveu o “Pollution Prevention Benefits Manual” publicado pela U.S. Environmental Protection Agency (EPA) e em subseqüentes publicações, sendo a mais recente a “EPA’s An Introduction Environmental Accounting as a Business Management Tool: Key Concepts And Terms (1995). Segue a classificação de custos sugerida:
a) custos convencionais: inclui os custos que, na maior parte das vezes, recebem atenção especial na contabilidade de custos, tais como investimentos em equipamentos, matéria-prima, mão-de-obra e materiais indiretos. Dessa forma, incluem todos aqueles associados com os aspectos ambientais tangíveis de tais processos e atividades. Seu controle conduz ao aumento da eficiência produtiva por eliminar o desperdício;
b) custos potencialmente ocultos: são aqueles ligados a todas as atividades necessárias para que a empresa se mantenha em conformidade com as leis e outras políticas ambientais inerentes à própria organização. DeLadurantey (1996, p.1) coloca que “a integração de exigências reguladoras nos planos de negócio enfoca os custos de conformidade para adequar produtos e processos e expõe formalmente custos ocultos”. Como exemplos, destacam-se o monitoramento ambiental, treinamento, relatório ambiental, entre outros;
c) custos com contingências: envolvem todos os custos que podem ou não ocorrer devido a futuros encargos com regulamentações, multas e penalidades, investimentos com a recuperação de recursos naturais danificados e outros gerados pela natureza. Conhecer o fato gerador de tais custos, antecipadamente, possibilita à empresa definir ações a fim de evitá-los; e
d) custos de imagem e relacionamento: envolvem a percepção e o relacionamento que os acionistas , comunidade e governo desenvolvem com a companhia. Apesar de difícil quantificação, o desempenho ambiental pode melhorar ou prejudicar o relacionamento da empresa com terceiros, e os impactos gerados podem ter custos e/ou implicações financeiras.
Bailey “sugere que após serem identificados e quantificados, todos os custos relacionados ao meio ambiente devem ser analisados a fim de se descobrir quais as suas causas para, então, alocá-los ou realocá-los conforme os processos ou atividades que os geraram”[19]. Conseqüentemente, decisões chaves da empresa referentes a preço dos produtos, mix de produtos e estratégias de marketing podem ser tomadas com maior efetividade, gerando maiores retornos. Os custos devem ser atribuídos aos departamentos, funções ou indivíduos com poder de controlá-los.
A companhia pode utilizar, também, a atribuição de custos ambientais para o departamento de compras, através da adição desses custos ao preço das entradas efetuadas, tais como, compra de matéria-prima, o que produz o verdadeiro custo de se utilizar um determinado material. Isso tem por objetivo motivar os gerentes da cadeia de suprimentos a analisar os materiais existentes e incentivar o processo de identificar financeira e ambientalmente as melhores alternativas.
A Rhodia[20], visando à melhoria contínua de seus processos e ao monitoramento de sua política ambiental, desenvolveu índices ambientais para controle dos efluentes sólidos, aquosos e gasosos. Com isso, são feitas comparações, ano a ano, para a empresa diagnosticar os pontos falhos e estabelecer novos padrões a serem alcançados, em um próximo ciclo de gestão.
Sabe-se que uma empresa, visando obter vantagem competitiva, deve não somente manter produtos de qualidade ímpar no mercado, como também ser capaz de inovar constantemente. Em cada decisão de novos projetos, a variável ambiental precisa estar presente para que as inovações da empresa reflitam uma evolução real em termos de qualidade.
Uma das técnicas da gestão de custos para a monitoração do desenvolvimento de novos produtos é o custeio por ciclo de vida. Este pode ser conceituado, de acordo com Ostrenga, como uma “prática de se organizar os custos de acordo com os estágios da vida de um produto ou serviço e usar esse perfil para se tomar decisões a respeito do mesmo”[21] e o custeio por ciclo de vida pode ser analisado sob diferentes prismas:
1) visão do fabricante, em que os estágios do ciclo de vida envolvem a investigação da viabilidade do projeto e seu conceito, projeto detalhado, produção de protótipos, produção industrial, produção e/ou prestação plena; serviços pós-venda; e retirada ou abandono. O autor retrocitado argumenta que, nessa fase de P&D, podem ocorrer problemas como projeções errôneas dos custos de produtos ou serviços e avaliações incorretas de lucratividade, para os quais o custeio por ciclo de vida é muito útil para a solução. Quanto à avaliação de lucratividade, o fato de os Princípios Fundamentais de Contabilidade exigirem, para fins de demonstrações contábeis e financeiras, que os custos de pesquisa e desenvolvimento (representantes de grandes parcelas das fases pré-operacionais) sejam contabilizados à medida que são incorridos, gera distorções na análise de lucratividade. Para fins gerenciais, ao se avaliar a lucratividade de um produto ou serviço é melhor isolar os custos de P&D e amortizá-los ao longo da vida esperada, pois um produto ou serviço não pode ser considerado realmente lucrativo até que tenha coberto seus custos de desenvolvimento. Sugerimos que, desde a primeira fase, seria interessante considerar os custos ambientais, isoladamente, objetivando um controle quantitativo da variável meio ambiente;
2) visão mercadológica, pela qual o volume de vendas é o fator determinante na classificação do estágio. Por essa visão, um produto passa pelos estágios de introdução, crescimento, declínio e abandono. O conceito mercadológico do ciclo de vida é usado para a previsão de receitas e a tomada de decisões sobre promoções. Combinando as informações das visões mercadológicas e do produtor, pode-se desenvolver um perfil de custo e lucratividade extremamente útil na orientação das decisões sobre desenvolvimento do produto/serviço. No tocante ao meio ambiente, colocamos que se pode fazer a comparação entre os custos totais para produzir um produto “limpo”, e a sua receita, considerando o grau de aceitação do público desse produto, levando-se em conta seu preço real, e até quando a empresa pode ter uma vantagem incremental no preço, devido ao fato de o produto conter especificações ambientais;
3) visão do cliente, os estágios de custo para o comprador são custo inicial de compra, custos de operação e manutenção do produto ou serviço e o custo de alienação do item ou de descontinuação do serviço. No custeio de vida inteira, uma extensão do ciclo de vida, são combinadas as três visões supracitadas. Para se ter a informação de quanto custa para um cliente dispor de um produto ou serviço, é necessário contar com a colaboração desde os fornecedores até o usuário final do produto. Ostrenga (1994, p.293) comenta que “a consideração formal do custo, para o cliente, de descartar um produto é um fenômeno mais recente, baseado na crescente conscientização da sociedade a respeito do custo e do impacto ambiental dos problemas ligados ao descarte de produtos”. Porém, quanto antes as empresas que têm o meio ambiente como uma variável crítica, considerarem o aspecto ambiental uma das peças chaves em sua cadeia de valores, maiores são as oportunidades de identificar melhorias de eficiência de seus processos e produtos.
Pesquisa, desenvolvimento, produção, comercialização e finanças devem ser atividades harmonizadas, focando sempre o produto final. Pensar em sistemas é a única forma de desenvolver processos, que possam aumentar significativamente a produtividade e alavancar a empresa em um negócio de sucesso.
Com o desenvolvimento da consciência mundial quanto aos problemas ambientais, as empresas precisam administrar seus recursos sob a ótica ecológica e, para tanto, torna-se necessário integrar o controle ambiental com os aspectos econômicos, contábeis e financeiros das empresas, a fim de melhor suportar suas estratégias e decisões, o que se converte em ganhos nos negócios e para a sociedade, uma vez que há a oportunidade de a empresa de reduzir custos e desperdícios no processo produtivo, bem como buscar novos produtos e mercados.
O custo de uma atividade é afetado pelas escolhas de políticas feitas por uma empresa, tais como:
a) características e desempenho do produto;
b) índice de gastos com atividade de pesquisa e desenvolvimento, bem como marketing;
c) tecnologia de processo escolhida; e
d) especificação das matérias-primas ou de outros insumos utilizados.

4. Considerações Finais

Uma empresa que adiciona a visão ambiental as suas políticas pode obter vantagens competitivas por estar analisando suas atividades, possibilitando a identificação de ineficiências e desperdícios no processo, o que pode resultar em inovações que aumentem sua produtividade e, por conseqüência, sua competitividade.
Adequar-se às exigências ambientais dos mercados, governos e sociedade, apesar de levar a empresa a despender um montante considerável, traz benefícios financeiros e vantagens competitivas. As indústrias perdem bilhões de dólares anualmente produzindo resíduos e alguns bilhões a mais para limpá-los. Assim, o uso de ferramentas de gestão de custo ambiental que proporcionem o desenvolvimento e uso de tecnologias limpas, bem como melhoria contínua dos processos produtivos, trazem maior eficiência e competitividade à empresa. A contabilidade de custos, o custeio por atividades e o custeio por ciclo de vida podem auxiliar nos processos de decisões que exijam considerações ambientais.
Nesse contexto, a Contabilidade, possui como um dos seus objetivos a estruturação, elaboração e análise das demonstrações contábeis, cujo papel é auxiliar as instituições nas suas tomadas de decisão, deve gerar informações que visam à compatibilização entre o desenvolvimento econômico e a manutenção da qualidade de vida, estimulando a sociedade, de forma geral, na preservação ambiental, e contribuindo decisivamente para o desenvolvimento sustentável.
Evidencia-se que a adequada implantação da gestão dos custos, com uma visão nos reflexos ecológicos, deverá ser encarada como um ato de responsabilidade social e seriedade, envolvendo o comprometimento da alta administração das organizações. Assim, pode-se alavancar a estratégia competitiva de cada empresa e assegurar o cumprimento de seu papel social com uma atuação responsável no mercado pós-moderno e competitivo.
Esses problemas afligem aos empresários industriais, notadamente nas agroindústrias[22], indústria têxtil[23], indústria de couro[24], indústria química, indústria metal-mecânica, indústria da construção civil, indústria de minerais não metálicos, indústria de mineração e indústria do turismo dentre outras. Pois o impacto ambiental causado por atividades de transformação, tornou-se uma das preocupações da sociedade pós-moderna, em função da destruição paulatina que vem causando ao meio ambiente e aos cidadãos.
As soluções para tais danos passam por questões das mais diversas ordens, notadamente de vontade política. Pois, além de tomada de decisão na gestão dos custos das Entidades, com as conseqüentes medidas para minimizar os problemas causados ao meio ambiente e cuja solução é do âmbito da responsabilidade social das empresas que geram os mesmos, as organizações necessitam construir os alicerces que preventivamente lhes garantam a continuidade dos seus negócios e a qualidade do ecossistema em que atuam.













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[1] Mestre em Contabilidade; Pós Graduado em Auditoria; Contador; Professor da Faculdade Castro Alves e da Unime das disciplinas Contabilidade Geral, Intermediária, Custos e Gerencial.
[2] Mestre em Contabilidade Decisorial e Estratégica; Coordenador do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Castro Alves; Pós graduado em Auditoria e Recursos Humanos; Professor de Contabilidade de Custos, Contabilidade Gerencial, Contabilidade Geral e Filosofia e Ética.
[3] PORTER, Michael E.. vantagem Competitiva. R.J.: Campus, 1985 : 31.
[4] PORTER, Michael E. & LINDE, Claas Van Der. Ser Verde também é Ser Competitivo. Revista Exame, São Paulo, n. 24, p. 72-78, 22 de nov. 1995: 76.
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[6] NORTH, Klalus. Environmental Business Management, ILO, MDS 30, 1992: 15.
[7] ATTUY, Jorge. Auditoria Ambiental. Revista do Auditor, ano II. Bimestral. Dez./95.1995 : 16.
[8] NAHUZ, Marcio Augusto Rabelo. O sistema ISO 14000 e a Certificação Ambiental, Revista de Administração de Empresas, 35, (6): 55-66, nov./dez 1995, São Paulo.1995: 61.
[9] MARTINS, Eliseu. & De LUCA, Márcia Martins Mendes. Ecologia via Contabilidade. Boletim do IBRACON, São Paulo, 6, (188): 02-07, jan./94,1994. p.2.
[10] PORTER, Michael E. & LINDE, Claas Van Der. Ser Verde também é Ser Competitivo. Revista Exame, São Paulo, n. 24, p. 72-78, 22 de nov. 1995: p.78.
[11] DONAIRE, Denis. A Internalização da Gestão Ambiental na Empresa. Revista da Administração. São Paulo, 31, (1):44-51, jan./mar. 1996. p.45.
[12] HOJDA, Ricardo Gross. ISO. 14001 - Sistema de Gestão Ambiental. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Politécnica da USP, São Paulo, 1997. p.157.
[13] MARSILI, Bruno. Marketing Verde. (1997): 12p. Online. Available: http://geocities.com/RainForest/Vines/4026/ 24 mai.2002.
[14] PORTER, Michael E.. A Vantagem Competitiva das Nações. R.J.: Campus, 1989, p.99.
[15] HOJDA, Ricardo Gross. ISO. 14001 - Sistema de Gestão Ambiental. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Politécnica da USP, São Paulo, 1997. p.7.
[16] MARTINS, Eliseu. & De LUCA, Márcia Martins Mendes. Ecologia via Contabilidade. Boletim do IBRACON, São Paulo, 6, (188): 02-07, jan./94,1994. p.2.
[17] BAILEY, P. E. & Soya, P. A. Making Envirnonmental Accouting Work for YourCompany. In Moving Ahead with ISO 14000: Improving Environmental Management and Advancing Sustanable Development, 1997, p.197.
[18] RIBEIRO, Maisa de Souza. Custeio das Atividades de Natureza Ambiental. Tese apresentada à FEA-USP para obtenção do título de Doutora em Contabilidade, 1998. p.69.
[19] BAILEY, P. E. & Soya, P. A. Making Envirnonmental Accouting Work for YourCompany. In Moving Ahead with ISO 14000: Improving Environmental Management and Advancing Sustanable Development, 1997, p.205.
[20] Espírito Santo, Angélica do. Análise de Impactos Ambientais no Ciclo de Vida do Produto. Relatório de Iniciação Científica apresentado à FAPESP, jun. 97 – mimeo.
[21] (1994, p.286)
[22] A agroindústria é a atividade econômica de industrialização ou beneficiamento de produtos agropecuários.
[23] A indústria têxtil é a atividade econômica de industrialização de matéria prima natural de origem vegetal e animal, além das fibras artificiais e sintéticas.
[24] A indústria de couro é a atividade econômica de beneficiamento e industrialização que consiste na transformação de peles de animais em couro.

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